Pós campanha

Nos últimos dias, a futura presidenta Dilma Rousseff concedeu uma conjunto de entrevistas a emissoras de televisão e, ontem, em uma coletiva de imprensa.

Foi curiosa a reação dos comentaristas em geral. Muitos elogios, a constatação de que ela não era bem aquilo que se julgava que fosse, referências à clareza de idéias, a afirmação de que, finalmente, se sabe o que ela pensa.

E o que se viu foi a mesma Dilma Ministra das Minas e Energia, Ministra-Chefe da Casa Civil e candidata a presidente da República, com as mesmas idéias e propostas.

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Ontem mesmo, no Valor Econômico, o presidente do Bradesco Luiz Carlos Trabucco Capi mostrava o que deverá ser o governo Dilma: investimento social, uso do pré-sal para políticas industriais e sociais, ênfase em programas tipo Minha Casa, Minha Vida. Ou seja, para o presidente do segundo maior banco privado brasileiro, nunca houve dúvidas maiores sobre como seria um governo Dilma.

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No entanto, durante toda a campanha, Dilma foi apresentada como assassina, terrorista, sapatão, matadora de criancinhas, chefe de quadrilha, anti-religião etc. Qualquer tentativa de mostrar que não era isso resultava em reações agressivas, preconceituosas.

O que teria ocorrido para, apenas dois dias depois, ser saudada como uma presidenta de bom senso, no qual os mesmos jornais depositam esperanças de um bom governo.

Simples: acabaram as eleições.

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Essa mudança radical de tratamento obriga a uma reflexão sobre os estilos de campanha eleitoral no Brasil.

A oposição enfrentou grandes problemas para definir uma linha programática, dado o grau de aprovação ao governo de Lula. Julgou que o único caminho seria o da desconstrução da imagem de Dilma. Poderia ter feito no campo administrativo, na falta de vivência eleitoral, insistido na tese de que a candidatura foi criada por Lula, que a falta de prática política poderia dificultar o futuro governo.

Resolveu ir além. Indo, rompeu com todos os limites da crítica.

A campanha terrível, nos programas eleitorais, por emails, telemarketing, deve ter permitido uns cinco pontos a mais para José Serra. Mas e o preço?

Eleita presidenta, em pouco tempo Dilma desmanchará essa imagem criada no ardor da campanha. Ontem mesmo, sem o peso da campanha, sem os ataques terríveis contra sua honra, viu-se uma mulher normal, simpática, à vontade, ganhando elogios dos antigos críticos.

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À medida que seu governo caminhe, será alvo de críticas e elogios normais, não de apologias ou infâmias. E, como 80% da população aprova a política de governo.

Já o preço pago pela oposição será pesado. Agora mesmo, os mesmos eleitores que acreditaram na campanha negativa abrem os jornais, revistas, assistem pela TV entrevistas ou comentários sobre a presidenta eleita e percebem que foram ludibriados.

Levará algum tempo para se desfazer a pesada cortina de preconceitos criadas pela campanha, o componente religioso, o tratamento oportunista dado à questão do aborto. Mas, principalmente, dificultará a reconstrução da oposição.

Luis Nassif

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