Teu corpo gordo

Teu corpo gordo, 
Flexível, moreno, — 
Anda nos meus olhos 
abençoadamente.
Não vejo outra coisa!
E nos meus sentidos 
Só vive o teu corpo; 
— E eu ando mais gordo, 
Sinto-me ansioso, 
Os nervos cansados, 
Os nervos partidos...
Como as águas das ribeiras 
E as águas dos rios 
Se perdem no mar, 
Assim os meus olhos 
Vão atrás de ti 
Quando te vêem passar! 
Não é bonita a imagem? 
Eu não sei fantasiar!
E quando a luz dos teus olhos 
— Sombra de um dia de outubro, 
Luminosíssimo, quente, 
— Silêncio de madrugada 
Rompendo no mês de novembro, 
Quando os teus olhos se fixam 
Rapidamente nos meus, 
Eu não sei o que desejo 
Nem sei o que hei-de pensar! 
— Sinto que morro no som 
De uma nota musical 
Que qualquer pode cantar!
Espera; não vás ainda: 
Escuta o resto da vida 
Nestas palavras de amor: 
Tens no teu corpo a reação — 
Da manhã, do anoitecer, 
E o teu sorriso é um sol.
O que dirá o teu corpo 
Quando eu o puder beijar?
poema de António Botto
modificado [poco] 

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