Não teriam terminado a eleição sob o signo de um antiesquerdismo primitivo.
Decisões erradas costumam custar caro na política. Especialmente as que levam a escolhas equivocadas de estratégia eleitoral. Como o ciclo eleitoral é longo, o erro de hoje produz efeitos durante anos.
Quando chegaram à candidatura de Serra, as oposições e o PSDB sabiam que o provável insucesso não só as manteria por mais quatro anos longe do poder, como as deixaria em posição complicada na sucessão de Dilma. Tinham consciência de que errar em 2010 as prejudicaria em 2014.
Queiram ver sucessos no projeto Serra-2010, foi um fracasso do começo ao fim, que afeta negativamente as oposições e que cobrará alto preço no futuro próximo.
Paradoxalmente, é a boa performance de Serra no segundo turno, perdendo por “apenas” 12 milhões de votos, que mostra quão errada foi a opção por seu nome. Quanto à votação que obteve no primeiro, nada a comentar: ele chegou quase que exatamente àquilo que as pesquisas antecipavam. Seus 33 milhões de votos, enfrentando Dilma, foram um bom retrato do limitado potencial de sua candidatura. (Para lembrar: Alckmin tinha recebido, há quatro anos, quase 40 milhões. Apenas para igualá-lo, Serra teria que ter ultrapassado 43 milhões de votos agora, considerando o aumento do eleitorado. E isso sem levar em conta que o adversário de Alckmin era ninguém menos que Lula!)
O fato é que houve Marina, em cujo vácuo Serra foi puxado para o segundo turno. Nisso, vimos duas coisas: a) que existia um espaço vazio na opinião pública, formado pelos eleitores que não haviam assimilado a proposta de Lula, de uma eleição despersonalizada; e b) que Marina podia ser a pessoa que esses eleitores procuravam, mas não Serra. Apenas a metade dos que votaram nela no primeiro turno deram a ele seu voto no segundo.
Ou seja: nessa parcela do eleitorado, Serra acabou derrotado pelo seu argumento básico de campanha. Ele perdeu para Dilma entre os que aceitaram que a eleição era um confronto de projetos (o plebiscito que Lula propunha). E não conseguiu convencer os eleitores de Marina de que era melhor candidato (“mais preparado”, “mais experiente”) que Dilma.
Não existe análise histórica contrafactual, feita na base do “se A e não B tivesse acontecido, quais seriam as consequências?”. Mas, no caso, a tentação é grande de especular sobre o que poderia ter ocorrido se Aécio tivesse sido o candidato do PSDB.
Talvez chegássemos ao fim do primeiro turno com um cenário diferente. Talvez Marina não crescesse tanto. Talvez ...
Se, no entanto, as coisas fossem parecidas e Aécio o candidato, a aritmética do segundo turno seria complicada para Dilma. Os eleitores de Marina teriam alguém em quem votar que possuía os mesmos atributos da senadora: capacidade de convencer, de entusiasmar, de transmitir uma imagem da mudança.
Alguém com carisma, como disseram muitos dos que votaram na candidata do PV.
Provavelmente, não seriam todos os eleitores de Marina que iriam para Aécio. Mas seriam mais que aqueles que Serra conseguiu atrair. Em outras palavras, Aécio teria uma chance real de vencer, coisa que Serra nunca teve.
O importante é que, mesmo perdendo com Aécio, as oposições estariam hoje em situação melhor. Não teriam terminado a eleição sob o signo de um antiesquerdismo primitivo. Não teriam tentado misturar política, religião e preconceitos. Não teriam se exposto a cenas ridículas.
Teriam um candidato pronto para 2014, quando as oposições deverão enfrentar um quadro difícil: ou uma presidente bem avaliada disputando a reeleição (notando que nenhum presidente deixou de se reeleger em nossa história) ou a possibilidade de Lula voltar ao páreo. Seu único nome viável, o próprio Aécio, ainda precisa ser apresentado ao país.
Mas o melhor, para as oposições, é que, se o mineiro tivesse sido candidato, não seria necessária a renovação custosa que têm que fazer. Por meio da candidatura de Aécio, a própria eleição teria sido a refundação do PSDB. O passado já seria passado e o futuro não teria que brigar com ele.
por Marcos Coimbra
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