Antes que Dilma se renda aos assaltantes do poder
"O Brasil paga para que os brasileiros não sejam proprietários dos meios de produção em seu próprio País. Parece que a aspiração máxima da maioria dos quadros dirigentes e dos empresários é serem gerentes a serviço de patrões estrangeiros". Adriano Benayron, em artigo publicado no jornal Nova Democracia. Vamos no entender: não votei na Dilma, mas nem por isso cometerei a mal-caratice de torcer pelo fracasso do seu governo. Antes, pelo contrário: como eu, os 193 milhões de brasileiros precisam que ela tenha êxito na tarefa confiada pela maioria do eleitorado. Desejar o contrário é impulso irresponsável de débeis mentais e interesses contrariados. Não fosse pelas razões maiores, é obrigação de todo mundo dar um tempo a ela. A ela e a todos os novos governantes que assumiram nos Estados. Afinal, embora tenha a marca da continuidade, espera-se que, por dignidade e auto-estima, possa ela imprimir sua própria personalidade ao cargo maior, cabendo a nós, opinantes periféricos, reagir conforme os passos dados. | | Por isso, é premissa patriótica fortalecer a nova presidente enquanto chefa de governo, chefe de Estado e comandante das Forças Armadas. Reforçando sua autoridade, estaremos facilitando os meios para que, enfim, diga a que veio. Nada como a prática como espelho absoluto da verdade. Como pano de fundo, a rapina do país Pessoalmente, não tenho expectativas otimistas em relação ao novo governo. Quisera sinceramente estar equivocado, mas como esse time que Dilma montou Dunga vai lavar a alma. Por mais que ela tenha boas intenções - não percebo ainda quais - está mais do que provado do que o exercício de um governo reflete sua composição. Há casos emblemáticos, como a recondução do senador Edson Lobão para o Ministério de Minas e Energia, onde ele não esconde seus propósitos de servir aos trustes, inclusive com novos leilões de nossas jazidas. Aliás, nessa área estratégica, está na hora dos patriotas falarem a mesma língua, independente de suas filiações e simpatias partidárias. O processo de desnacionalização e privatização da exploração dessa ainda fundamental fonte de energia se consolidou no governo Lula, que entregou mais jazidas a terceiros, principalmente estrangeiros, do que seu antecessor. E olha que FHC teve o atrevimento de quebrar o monopólio estatal do petróleo, numa hora em que os grandes trustes tinham grana de sobra, mas não sabiam onde "investir". Além dos leilões das reservas de portas abertas aos grupos internacionais, o que sabemos é que a própria Petrobras é hoje uma grande empresa privada, voltada para a terceirização da exploração, tendo a regê-la pessoas indicadas pelo governo. O pessoal do meio sabe muito bem das benesses garantidas às petroleiras privadas na nova lei do pré-sal. Com a assinatura do senador Romero Jucá, que permanecerá líder do governo, as petroleiras receberão de volta o royalties pagos, um presente de 30 bilhões de dólares por ano. Na Câmara, tamanha dádiva já havia sido introduzida na lei pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves. Mas não é só isso. O processo de desnacionalização da economia segue célere, com o que isso representa em descompromisso com nosso futuro. Sobre essa hecatombe, vale ler os relatos incontestáveis do professor Adriano Benayron. Você estará diante de um inventário alucinante de consequências arrasadoras. Um dia desses, quando acordar, verá que falar português já não dará pro gasto. Nossa classe política não está nem aí para a continuada invasão estrangeira. Ou, antes, está para facilitar o seu processamento, mediante generosas propinas. Isto é um assalto ao poder Daí a corrida sem cerimônia a qualquer nesga do poder. Esses dias, tudo o que lemos, vemos e ouvimos e uma guerra suja pelos órgãos públicos e estatais que disponham de grana farta para saciar ambições explícitas. Os picaretas não se incomodam nem com a remuneração, inferior ao que se paga nas empresas privadas. Querem os cargos não para servir. Querem, sim, e não escondem, para deles tirarem o máximo de proveito pessoal, no mesmo diapasão de sempre. Na gestão das verbas, os governantes terão como cobrarem propinas cada vez mais gordas. E de uma só tacada se arrumarem para o resto da vida. Dilma Rousseff, refém desse ambiente, não parece disposta a enfrentar o valhacouto do reduto inexpugnável dos corruptos mais insaciáveis. Não está disposta por que não tem bala na agulha. Sua condição de ungida pela força de terceiros pesa como uma pedreira em suas costas. São tímidos os seus movimentos na teia que a embaraça e isso poderá ser fatal para ela e para o país. Os escroques de todos os matizes se acham dotados de incomensuráveis instrumentos de chantagem. E estão pagando para ver, na trama grotesca do assalto aos podres poderes. Agem como sacripantas sem escrúpulos que querem definir suas fatias o quanto antes, isto é, antes que ela possa exibir sua própria luz e descubra sua legitimidade institucional, ainda ofuscada pela cultivada versão de preposta. Vê-se sem precisar de óculos que a sorte do novo governo vai ser decidida no nascedouro. Se deixar-se dominar pelas raposas do seu entorno, a primeira mulher presidente vai perder as rédeas e não resistirá aos apetites das más companhias. Certamente, ela sabe disso. E pode até ser que, por comodidade ou fraqueza, aceite render-se ao império dos canalhas de hoje, de ontem e de anteontem. Se isso acontecer, se continuar sem resistir ao loteamento do governo entre sócios de uma cobiça sem freios, a presidente do Brasil prestará um frustrante desserviço ao povo que deposita nela toda confiança com carinho e afeto. E a conta do que der de errado no novo governo acabará sendo paga por todos nós. Para variar.
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