As ruas do Egito voltaram a encher neste domingo (30). Nas pegadas dos protestos para derrubar o regime, proliferam os saques.
Com o escalpo balançando sobre o pescoço, o ditador Hosni Mubarak tomou duas providências.
Ampliou em uma hora o toque de recolher. Antes, começava às 16h –20h, no relógio de Brasília. Agora, principia às 15h.
De resto, reforçou a quantidade de policiais nas ruas. Uma tentativa de conter os saques e o rastilho de violência.
Mubarak porta-se como um médico amalucado que, diante de um paciente com desaranjo intestinal, reforça a dose do purgante.
A turba não se deu por achada. No asfalto estava, no meio-fio permaneceu. Deu de ombros para as novidades.
Mubarak conseguiu apenas ampliar em uma hora diária o vexame do desrespeito à ordem de recolhimento emanada de um governo sem autoridade.
Mais de duas horas depois do início do toque de recolher que não surte efeito, um pedaço da multidão cedia os ouvidos a Mohammed ElBaradei.
Nobel da Paz, ElBaradei trocou Viena, onde mora, pelo Cairo. Tenta converter-se em líder da oposição difusa que acossa Mubarak.
Neste domingo, o Nobel falou a milhares de manifestantes na capital egípcia (foto no rodapé). "Não podemos voltar atrás no que começamos", discursou.
Mais cedo, num encontro com repórteres, ElBaradei puxara para o centro da roda de fogo que arde no Egito o presidente dos EUA, Barack Obama.
Ele dissera estar convencido de que Obama pediria publicamente a renúncia de Mubarak, velho parceiro dos EUA. Coisa para logo, vaticinara:
"Se não aconteceu ainda, deve acontecer hoje ou amanhã. É melhor que este ditador abandone o Egito e Obama deveria exigir isto publicamente".
Enquanto Obama não pede e Mubarak não bate em retirada, avolumam-se os cadáveres no Egito.
A imprensa serve números díspares. Por baixo, numa conta da CNN, os mortos somam 38. Pelo alto, na contabilidade da Al Jazeera, chegam a 150.
Enquanto Mubarak se esforça para provar que as ditaduras também cometem suicídios, o Egito clama por uma realidade nova.
O país convive com múltiplas possibilidade. Na pior hipótese, caminhará para uma teocracia. Na melhor, mergulhará numa democracia.
Numa ou noutra hipótese, haverá um Egito inteiramente novo. Caos não falta!
por Josias de Souza
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