Briga entre Dirceu, Palocci e Mantega não existe

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Guido Mantega


A reportagem da Folha de S.Paulo de sábado (12.02) com o título "Crítica a ajuste fiscal faz Mantega cobrar explicação de Dirceu", não traduz a realidade. Diz, por exemplo, que o Ministro da Fazenda cobrou-me explicações e que eu neguei ter reclamado dos cortes.


Na verdade, tudo o que eu disse na reunião do Diretório Nacional do PT (DN-PT) está em meu blog. E eu não me retratei. Minha relação com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é de respeito e amizade. Muito menos minha fala no PT pode ser reduzida à simplificação de críticas aos juros ou muito menos ao corte orçamentário.

O que eu disse - e repito - na reunião do DN-PT eu escrevo toda semana em artigos nos jornais e aqui no blog. Destaquei que aumentar os juros valoriza o real e aumenta, e muito, a dívida interna, anulando o esforço fiscal do governo de corte de R$ 50 bi do Orçamento 2011.

Cada 1% de elevação da taxa Selic aumenta em R$ 15 bi os gastos com o serviço da dívida interna e esta taxa já subiu 3% desde o início da mudança da política de juros do Banco Central (BC).

Esforço fiscal real será de R$ 15 bi

Frisei mais, que o esforço fiscal de R$ 50 bi, na verdade, conta com pelo menos R$ 20 bi  da arrecadação extra de 2011, fruto do crescimento do PIB, mais R$ 15 bi de despesas incluídas pelo Congresso Nacional com novos programas, sem compromisso do governo de realizá-las. Assim, o esforço fiscal real será de R$ 15 bi, totalmente possível.

Tenho dito mais (o que a matéria da Folha, inclusive, reproduz) que aumentar juros não é a única forma de se combater a inflação e nem pode ser. Vários países optaram por outras saídas - o Chile, a Turquia, a Rússia... Alguns até reduziram os juros. Afirmei e continuo afirmando que o corte não pode afetar os programas sociais e o PAC.

Além disso, o Ministro Mantega reafirmou o óbvio: que o Governo não pretende impor um corte linear, burro, a "la tucanos", e que, realmente não cortará no PAC e nem nos programas sociais. Muito menos vai se descuidar da valorização do real. Daí as medidas tomadas no final do ano e neste início de governo Dilma para conter essa valorização e o crescimento do crédito.

Não há a briga noticiada com os ministros Mantega e Palocci

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Antônio Palocci
Assim não se trata de uma briga entre eu e o ministro Mantega, e muito menos como diz a matéria da Folha, indiretamente com o Ministro-Chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, que tem todo meu apoio na sua nova função.


Trata-se, sim, de uma questão de fundo, que envolve a discussão do salário mínimo e dos gastos sociais como Previdência, Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), seguro desemprego e de outros programas sociais.

É, portanto, uma questão que envolve o modelo de desenvolvimento nacional. Daí que esta ideia, agora dominante na Europa, de que a crise econômico-financeira global veio pelo excesso de gastos dos governos, do déficit públicos e do endividamento não apenas público mas das famílias, não passa de meia verdade ou mesmo de uma farsa.

Foi o socorro aos bancos e ao sistema financeiro - escrevi isso e discuti com os leitores o tempo todo - que levou ao déficit e a dívidas internas gigantescos. Foi o modelo da desregulamentação que levou os governos a se endividarem e as famílias a se envolverem na especulação e nos ganhos fáceis do mercado bursatil e de imóveis, e não o contrário.

 Zé Dirceu

Briguilino

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