Escolhas

Todos nós, todos os dias, fazemos escolhas, das mais insignificantes àquelas mais importantes, mais sérias e que, de uma forma ou de outra, alteram os nossos destinos ou vão contribuir para alguma mudança mais à frente. Escolhemos o que vamos comer quando podemos ou temos; escolhemos a nossa bebida, seja a água simples ou a mais sofisticada, quando igualmente podemos. Acima do SER e do NÃO SER, existe o PODER e o NÃO PODER, precisa existir a sabedoria por conta das necessidades e contextos de cada um: manda quem pode e obedece quem precisa, seja lá do que for.

Existem os que obedecem, não por uma imposição de quem manda, para demonstrar poder ou o simples prazer montado na humildade alheia, mas para consolidar a subserviência na moldura dos interesses de seus escusos interesses. Escolhemos o nosso lado da cama quando a dividimos com alguém ou nos esparramamos como bem nos agrada se a cama é grande e escolhemos dormir sozinhos. Escolhemos o perfume, a colônia, cada camisa, sapato, relógio; se vamos nos barbear ou se vamos deixar para amanhã.

Escolhemos as flores que queremos mandar ou não mandamos flores para absolutamente ninguém e ninguém vai ficar sabendo se as deixarmos de mandar, mas nós sabemos, sim, que não mandamos porque desistimos, por uma mágoa, por despeito, ou porque as que mandamos antes nunca encontraram um jarro, por mais modesto que fosse, para agonizarem dignamente até murcharem de vez e morrer. Escolhemos prestar atenção ou fazer ouvidos de mercador. Escolhemos a quem fazer o bem ou escolhemos deixar de fazer, sem nos darmos conta de que não fazendo, se podemos, estamos fazendo o mal compulsoriamente.

Escolhemos os amigos e aceitar deles as brincadeiras que eles acham que achamos engraçadas porque somos culpados pelas que fizemos achando que estávamos agradando, mas é a vida e a vida nós não a escolhemos do jeito que ela é. Sonhamos em ter muito dinheiro e comprar todos os prazeres do mundo até descobrir que só podemos desfrutar um prazer de cada vez. Só podemos beijar uma boca de cada vez, usar um relógio de cada vez, usar um terno, uma gravata, uma cueca de cada vez. Podemos ter uma mulher de cada vez, mesmo que nos permitamos à molecagem de um ménage seja lá de quantos forem. Escolher a hora de chegar, a hora de sair ou ficar, mesmo achando tudo muito chato, seja um discurso, uma conversa, uma missa, um sermão vazio, uma reza comprida demais, mas não deixa de ser uma escolha.

Não escolhemos parente, mas precisamos aceitar o que temos e para isso não existe escolha possível. Escolhemos até o nome da nossa inveja e todas as suas cores e dimensões. É bem verdade que aqueles com quem dividimos nossos abraços, beijos e todas as nossas intimidades são uma escolha nossa, mas depois podemos escolher se estamos arrependidos e escolher também se vamos ficar juntos por uma necessidade, uma conveniência ou só para salvar as aparências e dar uma satisfação à sociedade que nos cerca e nos impõe regras, como os dois centímetros que separam um prato de porcelana japonesa da borda da mesa de toalha de linho. Escolhemos viver bem ou procurar problemas, aborrecimentos.

Sermos amargos, doces ou revoltados. Escolhemos os níveis da arrogância e da prepotência. Todos os dias fazemos os caminhos das nossas escolhas sempre pensando que vamos chegar bem e mesmo sem escolher encontrar uma bala perdida, um dia uma bala nos encontra porque escolhemos ser indiferentes dentro de um muro alto, um carro blindado ou um nariz torcido. 

Todos os dias fazemos escolhas... 

Muitas delas pensando que são as melhores e só depois nos damos conta de que a maioria delas foram absolutamente erradas.
A. CAPIBARIBE NETO

Nenhum comentário:

Postar um comentário