A divulgação pelo IBGE de que o IPCA de janeiro ficou em 0,83% disseminou uma onda de alardes que, a bem da verdade, não faz sentido. Afinal, é preciso tranquilidade para analisar o cenário, identificar as razões e nuances inflacionárias para então selecionar os meios de intervenção adequados.
A estabilidade econômica do país, pautada em sólidos fundamentos e alimentada pelas boas perspectivas de crescimento sustentado são os fiadores dessa necessária tranquilidade.
Infelizmente, não é esse o comportamento do mercado e da mídia nos últimos meses.
Há certo grau de fatalismo na observação sobre a inflação e recrudescimento da velha fórmula de enfrentar o problema com corte de gastos, Selic maior -falam em frear as expectativas- e apenas repor o salário mínimo.
Os objetivos são diminuir a demanda e o consumo, reduzir o crescimento e brecar o ritmo de geração de emprego e de ampliação da renda.
Há, contudo, que considerar as peculiaridades no âmbito interno e os movimentos internacionais -ou seja, contextualizar o debate sobre os riscos inflacionários. Não podemos nos esquecer que o mundo ainda enfrenta dificuldades decorrentes da maior crise econômica desde 1929.
Precisamos lembrar também que se tivéssemos enfrentado essa grave crise com as fórmulas que o mercado e a mídia queriam, teríamos mergulhado em uma recessão e no desemprego que poderia nos custar uma década de avanços.
Aliás, diga-se, já sabíamos que essa opção por manter a economia aquecida -via crédito fácil e aumento do consumo- teria efeitos colaterais, que de longe são preferíveis à recessão vivida pelos EUA e Europa até hoje.
O momento é de retirada das ferramentas anticíclicas introduzidas durante a crise, como o enxugamento do crédito. Isso vem sendo feito pelo governo, que também sinaliza com cortes de gastos para complementar esse processo -que não podem atingir os investimentos.
Mas o tom do mercado e do noticiário é quase um desejo para que criemos problemas mais profundos, como a baixa atividade econômica e o desemprego. O fato é que, se não quisermos fantasiar da assombração à inflação, é imprescindível diagnosticar que parte dela advém das commodities precificadas internacionalmente, sobre as quais uma Selic maior não terá efeitos.
Fundamentalmente, portanto, o caminho é fortalecer o vetor produtivo, para que no médio prazo haja convergência entre demanda e oferta, objetivo que passa pela reforma tributária, por políticas de desenvolvimento tecnológico e industrial, mas também por avanços em infraestrutura e educação.
A alternativa desbotada da alta dos juros tem efeitos muito nocivos, como valorizar ainda mais o real e aumentar o serviço da dívida interna, anulando o esforço fiscal do corte de gastos. Enfim, debater os riscos inflacionários no Brasil é tarefa que requer cuidado com os determinismos econômicos e boa dose de questionamento às teses do mercado.
No fundo, precisamos primeiro responder: será mesmo necessária a descontinuidade, mesmo que conjuntural, das políticas de fortalecimento do nosso mercado interno?
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