Costuma acontecer com governos e ensaia repetir-se. Toda crítica ou contestação será recebida como ameaça à autoridade. E a reação também está no manual: a necessidade imperiosa de dar uma demonstração de força.
Governos adoram oferecer demonstrações de força, mas costumam escolher bem o alvo.
A autossuficiência comparece em assuntos como o salário mínimo e o reajuste da tabela do imposto de renda.
Mas é substituída pela gentileza quando sobre a mesa estão os juros, as renúncias fiscais segmentadas ou as renegociações de grandes dívidas com bancos públicos.Ou a salvação de banqueiros amigos.
Por uma razão objetiva. O povo comparece à política de quatro em quatro anos. Já a elite está presente no poder todo dia.
De vez em quando a receita desanda, como comprova novamente o caso egípcio, mas é exceção.
O governo parece ter decidido enveredar pela desqualificação do debate sobre o salário mínimo.
Tenho convivido na minha vida profissional com alguns empresários de grande sucesso. Não conheci nenhum que levasse o tal "cumprimento de contratos" ao plano da religião.
Contratos foram feitos para serem discutidos quando apresentam problemas na execução.
Todo empresário sabe que entre manter o cliente e exigir o cumprimento draconiano do contrato a primeira opção sempre merece ser olhada.
Aliás, nem o governo leva a ferro e fogo essa teologia, pois propõe agora o encurtamento, no tempo, da política de aumentos reais do mínimo.
A política em vigor para o mínimo não chega a ser um mau contrato, mas apresenta um problema pontual na execução. A economia vai bem (não é o que diz o governo?), mas dois anos atrás estava mal.
Pelo critério de somar o penúltimo PIB à última inflação o reajuste agora resultará mixuruca.
Tão mixuruca que o próprio governo topou dar um troco a mais, para não ficar abaixo da inflação. Vê-se portanto que o tal cumprimento de contratos não tem a estatura, por exemplo, dos dez mandamentos oferecidos a Moisés.
A solução é simples e está à mão. Antecipar parte dos quase 14% de reajuste previstos, pela regra, para 2012. Qualquer porcento a mais
agora seria deduzido do aumento ano que vem. É técnica conhecida nas negociações sindicais.
E seria bom para os trabalhadores e aposentados, que percorreriam 2011 de um jeito menos desconfortável.
Mas o governo parece preferir pagar o preço político com o lado mais fraco, e ganhar assim uma margem de arrocho fiscal à custa dos indefesos que tem vencimentos vinculados ao salário mínimo
por Alon
Briguilino
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