Para não deixar Barak
Quero prestar minha total solidariedade ao Mubarak, apesar de não ter contado com o seu apoio durante a Guerra do Golfo. Entendo perfeitamente o que ele está passando. Vivi o mesmo ciclo. Primeiro os EUA te apoiam em nome de manter os fundamentalistas afastados. Quando a coisa encrespa, eles mudam de lado e aí não há mais jeito de permanecer no poder. Só de falar nisso já me vem um nó na garganta.
Após o levante popular nas ruas do Cairo, de Alexandria e de Suez, a diplomacia americana, meio que ainda em cima do muro, aguardando os acontecimentos para se posicionar, manifestou seu desejo de que o Egito rume para uma transição pacífica, com eleições livres em setembro. Será que eles estão se referindo a algo como aquele pleito na Flórida que elegeu o Bush? Se for isso, não há necessidade dessa recomendação. Esse tipo de eleição já é praticada por lá há muito tempo. Você pode não acreditar, mas, quando escuto essas coisas, me dá uma saudade danada do Bush. Do pai, do filho e do espírito santo, o Reagan.
Os americanos são crazy mesmo. Um jovem em Boston se frustra com uma garota e constrói uma ferramenta que ajuda a provocar a maior esculhambação no mundo árabe. Aposto que essa menina não será julgada com o rigor com que eu eu fui. Tivesse ela ficado no lugarzinho dela, a CNN e a Al-Jazira estariam procurando outras pautas.
Bom, pelo menos, serviu para me mostrar que o tal do flash mob não precisa ser necessariamente uma coisa estúpida, feito só para as câmeras de vídeo captarem a cara de espanto dos desavisados e depois colocar no YouTube.
Mas não pensem que eu abomino as redes sociais. Eu sigo o Stalin fake no Twitter. Saudade é saudade.
No fim das contas, eu e Mubarak, apesar de nosso ponto em comum, tiranos laicos do mundo árabe, temos desfechos paradoxais. Eu caí pela alegação de que estava produzindo armas de destruição em massa. No caso dele, as massas o destruirão.
Apesar de iraquiano, fui muito mais faraônico do que ele. Construí 23 palácios e espalhei minha imagem por todos os cantos do Iraque. Mubarak é uma múmia em matéria de deixar sua marca pessoal. Coitado, ninguém no Ocidente sabia seu nome direito antes de começar essa confusão toda. Fosse eu a comandar o Egito, o Templo de Ramsés II já teria um enorme bigode esculpido na fachada.
No fim de 2006, a gravação do meu enforcamento concorreu com o vídeo da Daniela Cicarelli - aquele em que ela aparece se roçando com seu namorado na praia de Cádiz - pelo título de mais visto na internet brasileira. É o que eu sempre digo, na web as pessoas gostam mesmo é de ver sacanagem. Pra encerrar, quero dizer ao Bush e a todo o povo americano: sim, nós estávamos produzindo armas de entorpecimento em massa. Faltava pouco para lançarmos o nosso BBB. Big Brother Bagdá. Onde o público eliminaria literalmente os participantes. Cada membro só sairia da casa amarrado a dinamites. Esse é o tipo de espetáculo que a mídia ocidental adora. E além de tudo mete um medo danado.
por
Vitor Knijnik
Vitor Knijnik é diretor de criação da agência Energy. Seu blog é www.blogsdoalem.com.br. Siga também no twitter: http://twitter.com/vitorknijnik
Perfeito, Brig.
ResponderExcluirAproveito pra divulgar que os chinezinhos são terríveis - aprendi com a MC Poli, apresentadora do Jornal da Cultura http://asarvoressaofaceisdeachar.blogspot.com/2011/02/esses-chineses-sao-terriveis.html