Declaração de amor à Língua Portuguesa

És a mais bela de todas as línguas que existem. Gosto muito de você. Gosto de brincar com você, de te contemplar, de te seduzir, pois só tu és inebriante... Língua Portuguesa, você é única. Me fascina tua gramática, complicada e perfeitinha. Amo tuas curvas semânticas, nas quais me perco no tempo e no espaço... Me encantam teus belos olhos sintáticos, dos quais emana o mistério da tua alma... Me agrada tua pele semiótica, tão macia e perfumada quanto os lírios dos campos Elíseos... Gosto de te conhecer cada vez mais. Gosto de desvendar teus mistérios ocultos, tarefa mais empolgante que uma caça aos antigos tesouros egípcios... Gosto de te reinventar e, assim, reinvento a mim mesmo... Língua portuguesa, você é como um sonho, como um conto de fadas em que o príncipe e a mocinha viveram felizes para sempre... Você pode não ser perfeita, mas é impressionante como você se aproxima da perfeição! Sendo assim, você me completa. Aprendi a gostar até de teus defeitos, inculta e bela. Última flor do Lácio, como podes ser tão maravilhosa? Você tem dupla personalidade, Língua Portuguesa. E até disso eu gosto! Em certos momentos, você é incrivelmente romântica, sedutora, meiga, doce, e eternamente carinhosa... Sabe, nas noites frias de inverno você fica muito manhosa, gatinha. Já nas noites de verão, você é impetuosa, elegante, decidida, independente. Amo tuas duas personalidades! Talvez por isso, cada dia é um novo dia. Não conhecemos a rotina. Juntos, testamos nossos limites. Juntos, superamos nossos limites, e a cada dia ficamos mais íntimos um do outro. Língua Portuguesa, tuas duas personalidades me encantam e me fascinam, assim como Nietzsche ficava encantado e fascinado com as duas mulheres que ele teve na vida, Bertha e Lou Salomé. Talvez por isso você me complete, porque você é completa. Você tem em si o dia e a noite, o sol e a lua. Você transita tanto na poesia de Baudelaire, como na poesia de Leminski. Amo tanto você certinha, como você rebelde. Amo o modo como você é falada nos palácios, gramaticalmente correta, tão perfeita quanto a razão áurea dos gregos. Mas também amo o modo como você é falada nas ruas, nos becos, nas sombras, tão dinâmica, tão criativa, tão sonora, tão serelepe, tão sapeca, que me faz ver estrelas... Você transmite alegria. Você exala amor. Você pulsa energia popular. E ainda tens visão social! Língua Portuguesa, você foi feita pra mim, e eu pra ti. O dia que eu te conheci foi o melhor dia da minha vida! A cada dia te conheço mais, por isso, cada dia com você é o melhor dia da minha vida. Tens em ti tanto a beleza simétrica da relatividade de Einstein, quanto o lirismo dos loucos, dos bêbados, dos clowns de Shakespeare! Língua Portuguesa, eu te amo! Perdidamente...
Poema publicado no jornal "O XI de Agosto", da faculdade de Direito da USP - Largo de São Francisco

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