Na liturgia das ondas a benção de energias para embates inevitáveis, como é da minha natureza

Vi no espelho do mar bravio que um dia os pusilânimes serão abatidos pela roda da história


"Não somos indispensáveis ao mundo, nem a ninguém no mundo. Mas podemos  CONVIR ao mundo, indo ao encontro de sua beleza e até de suas não belezas".
Paulo Timm, economista, ex-exilado político, companheiro de todas as lutas, em seu comentário sobre meu texto anterior
 

O cair da tarde no mar infinito flagrado por Lívia Santana
 
 
Sete dias não são nada na vida de um povo. Não são nada até mesmo em nossas vidas. Mas os sete dias passados em alto mar, já quase setuagenário, me permitiram rever o trajeto percorrido e pontilhar o destino a enfrentar.
Não tinha muito que fazer senão olhar-me através do espelho das águas inquietas. Propus-me a tal desde o cais. E esse olhar maduro e sereno foi fundo, alcançou-me o cérebro e mexeu com todo o estoque de valores, idéias e lembranças. Valeu, digo sem exagerar. Valeu mesmo.
No delírio daqueles instantes solenizados, mergulhei de cabeça nas apoteóticas profundezas de um mar senhorial. Vi o imponderável unir, como dua s faces do mesmo infinito, o azul marinho das águas bravias ao vermelho do sol poente, uma imagem singular que só mentes poéticas podem assimilar em toda a sua simbologia.
Vi tudo, então. Vi os semblantes da dúvida espelhados nas ondas enigmáticas de prenúncios indecifráveis. Aprendi a lição. Hipócritas são os cortesões maledicentes que jogam todas as suas fichas na acomodação genuflexa dos caídos nos ciclones da paranóia internalizada.
Vi naquele mar o abismo dos acomodados, mamíferos desfibrados, picados por venenos de efeitos efêmeros, esses soníferos da obsessão egoísta, ilusória, da sedução dos encantos do fausto artificioso, dos devaneios pessoais frívolos, dos prazeres cosméticos forjados na auto-afirmarão, na competição mesquinha inconsciente, nos impulsos da inveja, esse fruir de jóias falsas, mas reluzentes, como elemento de um reles orgasmo banalizado.

Mesmo quando a maré não está pra peixe
No entanto, juro por Deus, pesquei no alto-mar sinais de que o ardiloso aprisionamento dos entes pensantes está com seus dias contados. Dias ou anos, traçados na milenar escrita marinha. Sim e sim. Não é história de pescador. É o que se vê também, olhando bem, nas marcas dos símbolos deixados pela maré, ao cair da tarde, sob o rubro do sol brilhante, nas areias da praia.
Quando a casa vai cair? Esclareço a bem da verdade: isso não me foi possível decifrar, mas é bom que nos preparemos para qualquer coisa, a qualquer momento. Há anos que valem por dias, mas há também dias que valem por anos.
Nós outros, mesmo poucos, poderemos minar os tentáculos da hidra devastadora. Isso predisse e provou Oscar Wilde, naquele 1900 de tantas idéias férteis.
Está bem, admito: hoje, ainda há, sim, é inegável, uma preponderância das células malignas, que submetem o organismo social ao insólito da mais impertinente mediocridade - a rainha do samba e do maracatu.
Na distância do epicentro fratricida, da caótica torre de Babel, a salvo dos sons das cuícas e tamborins, pairando na constelação etérea, é possível construir uma utopia factível, por paradoxal que à primeira vista pareça.

A descoberta de si mesmo
Faça isso, você também, mesmo em terra minada. Pare para pensar, afaste-se do torvelinho, abstraia a pressão do cotidiano, flutue na senda do revelador distanciamento crítico, faça de conta que você não está nem aí, que não tem contas a pagar, que não tem cobranças a honrar, nem a fazer, enfim, incursione acima do cenário terrestre e tente mirar o mundo pelo olho mágico da inocência pétrea.
Um impetuoso sentimento de libertação o impulsionará à descoberta de si mesmo. Esse será o maior de todos os ganhos, o mais consistente de todos os triunfos. De fato, ouso declarar alto e bom som, o primeiro segredo da contemplação dos mares é o espelho em alto relevo que transpassa nossas almas inquietas, que movimenta nossas imagens cravadas nas ondas e nos leva de um lado a outro do arco da busca da própria razão de ser.

Na ignorância, a inércia e a renúncia
Vou fundo nesse clamor porque, longe das arenas e dos proscênios, veremos personagens manipuladas tão somente por conta de sua fragilidade consentida, de sua exube rante ignorância cultivada. Sim, senhoras e senhores, os horrores de uma vida boçal nos cobrem de uma camada espessa de renúncias acovardadas.
Renuncia-se a quase tudo na negociação inconsciente com os espoliadores de nosso trabalho, sagazes ao ponto de obter de cada um o rogo pelo sacrifício impiedoso. A ciência da perpetuação dos domínios, da estratificação social e cultural, essa álgebra feérica nos emascula o hábito de indignar-se e torna fúteis e laterais nossos ímpetos de rejeição, ditando-nos meticulosamente cada vocábulo de nossas exclamações, segundo o programa do cibernético laboratório de formação e individualização do comportamento coletivo, a forja do "hei de vencer a qualquer preço e se dane o mundo", danem-se até mesmo, se empecilhos forem, os irmãos de fé, camadas.
Os cidadãos que seriam livres e iguais em direitos na democracia proclamada tendem a renunciar à condição de sujeit os dos seus passos, rendendo-se ainda, neste instante que há de passar, à incultura avassaladora, à tirania midiática, à mistificação dos púlpitos, como se milhões de palermas fossem induzidos à autofagia mental.

Mas os pusilânimes sucumbirão
Ainda  vejo esses tolos no manicômio da insanidade prescrita: fieiras de oprimidos esgarçados ainda acham sensato deixar que pensem e decidam por eles, que o exercício da política, das grandes decisões de Estado se torne exclusivo de profissionais de mãos sujas, enriquecidos ironicamente pela população renunciante, perfilada no grande exército de analfabetos políticos.
O mar, misterioso mar, é, no entanto, o espelho convexo mais luminoso das verdades que se alojam nos recônditos adormecidos.
Nesses dias ausentes, inspirado pela água suavemente zangada que não cala um só momento, passei horas a contemplar seu estado de movimento constante, o choque das ondas, o relevo das espumas, o vôo rasante das gaivotas. A linguagem desse mundo tem a carga simbólica de um processo irreversível, que há de atropelar os fracos, os pusilânimes, os pobres de espírito, os canalhas, cedendo aos intrépidos ventos uivantes da transformação inevitável. Uma transformação que penetrará fundo simultaneamente em todos e em cada um de nós.
Por que nem só das arapucas midiáticas se constrói a consciência dos seres. Pelo contrário, há um outro mar  aberto, essa rede internáutica sem fronteiras, permitindo que a palavra livre seja escrita e pronunciada por todos e a todos chegue, mais dia, menos dia, de uma forma ou de outra.
No espelho das águas, ainda que em ondulações frené ticas, pude ver o mundo novo que virá, pude ver a varredura do lixo que a intrepidez de alguns, apenas alguns, se for o caso, haverá de reduzir a desprezíveis detritos, levando em sua torrente a fauna putrefata que, por ora, ainda manipula esses podres poderes.

Firme e forte para o que der e vier
É com a certeza de que a escrita ainda muito pode que retorno ao que se diz ser terra firme.
Firme será ainda mais o meu grito espalhado no ar, ainda mais estridente, mercê da enorme carga de oxigênio contida em tantas mensagens e comentários recebidos. Mercê igualmente do processo abjeto de indignidades com que os vilões desses podres poderes apertam o cerco, tentando me encurralar, para que me cale ou fale sua íngua corrupta e enganadora.
A partir de agora, serei mais assíduo nas minhas colunas, repassarei matérias, indicarei links, estarei mais presente na facebook e no twitter. E, sobretudo, tão logo me estruture, irei para as ruas, pelo menos uma vez por semana, conversar diretamente com quem não posso alcançar pela internet.
Sei que não sou indispensável ao mundo, mas, pelo visto, minha palavra conta. E isso é o que me faz rejuvenescer nas liças a que associei minha própria razão de viver.
Enfim, eis-me inteiro, pronto para o que der e vier.
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Esta coluna é publicada também na edição impressa do jornal  


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