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Em Florianópolis, a capital com melhor Índice de Desenvolvimento Humano, a mais nova escola de samba ganhou o carnaval deste ano com um enredo de exaltação à revolução cubano, que contou com a presença da médica Aleida Guevara, filha do lendário "Che". Desde a entrada na passarela, o desfilde de "Cuba sim, em nome da verdade" ganhou a torcida espontânea das arquibancadas.
Vale lembrar que em 2006, com o apoio da petrolífera estatal venezuelana, a Unidos de Vila Isabel ganhou o carnaval carioca com o enredo "Soy Loco por ti, America: a Vila canta a latinidade". Nesse desfile, o carnavalesco Alexandre Louzada exaltou as lutas dos povos latino-americanos, exibindo imagens de Bolívar, Che Guevara e Fidel Castro, mas guardando sempre uma certa reserva para proteger-se das pressões dos d onos de um certame voltado para o turismo internacional.
Já em Florianópolis, a escola da Lagoa da Conceição, um bairro de 15 mil moradores em sua maioria de classe média, produziu um enredo com a mais irrestrita identificação com a revolução cubana: sua bateria vestia o uniforme do exército revolucionário e a diretoria exibia paletós com as cores da bandeira cubana, enquanto as alas mostravam o rosto de Che Guevara.
Cuba com referência para os sambistas
A demonstração de simpatia política foi sustentada por um enredo com a apresentação das principais marcas da revolução, como a reforma agrária, o ambiente de busca da igualdade e as conquistas sociais, como enfatizou o carnavalesco Jaime Cezário:
"É claro que Cuba tem os seus problemas e não é nenhum paraíso socialista, ainda mais por conviver há cinco décadas com um bloqueio econômico.
Entretanto, não podemos deixar de ressaltar e, por que n ão, admirar esse povo que transformou um país com grande índice de analfabetos e miséria em uma nação que hoje é referência mundial nas artes, nos esportes, na medicina, entre outras áreas, e respeitada pela defesa intransigente de sua soberania e que, apesar de todas as dificuldades, não capitulou e permanece firme em seus ideais revolucionários.
Após os avanços e conquistas sociais alcançados nessas últimas cinco décadas, o povo cubano nunca mais será submisso a qualquer interesse externo, tão pouco abrirá mão dessas conquistas, pois os alicerces sociais estão fincados. Um povo alfabetizado e consciente politicamente não se dobra à força das armas, mas sim à dos ideais".
Clique aqui e leia a sinopse do enredo
Rompendo uma tradição conservadora
Pelo que sei, até mesmo devido ao processo de colonização recente, em que há uma predominância de pequenas propriedades rurais cultivadas por descendentes de alemães, poloneses, italianos e outros países do leste europeu, e uma distribuição pelo interior de pólos econômicos, Santa Catarina sempre foi um Estado de verniz conservadora.
Agora mesmo, elegeu governador o candidato do DEM, juntando a ele um senador do PMDB (ex-governador) e outro do PSDB. O prefeito de Florianópolis é Dário Berger, do PMDB, que em 2008 derrotou Esperidião Amin, do PP, no segundo turno.
No entanto, desde que entrou na Passarela Nego Quirido, a União da Ilha da Magia arrebatou as arquibancadas, com capacidade de 10 mil pessoas, que cantavam o seu samba-enredo e davam vivas a Cuba. A médica cubana Aleida Guevara, filha de Che, arrancou aplausos emocionados ao desfilar num carro alegórico, tendo como destaque um folião que personalizava seu pai.
O envolv imento da platéia foi tão politizado que a tv da rede RBS de Florianópolis (afiliada à Globo) chegou a exibir durante a apresentação em legendas alguns comentários de telespectadores criticando o regime cubano, tentando desfazer a empatia entre o público e Cuba.
Arquibancada ajudou escola a vencer
Mas os jornalistas que cobriram o desfile das cinco grandes escolas coincidiram em observar que o desfile da UIM foi inflado pelo apoio das arquibancadas, que deliravam já na comissão de frente, que apresentava uma colagem de peças com a figura de Che. Essa escola existe há apenas 3 anos e disputava com outros antigas, já populares, como a Embaixada Copa Lord, segunda colocada, cujo fundador dá o nome à passarela, construída em 1989.
Na exposição sobre o enredo, o carnavalesco Jaime Cezário deu o tom da proposta da escola campeã: "O carnaval tem como principal objetivo levar inf ormação através dos seus enredos, assim como divertir e encantar o grande público amante da festa. Nós, da União da Ilha da Magia, a escola de samba mais nova da cidade de Florianópolis, não queremos perder esse foco de utilizar essa grande festa para levar diversão, informação e questionamento.
Nossos caminhos são novos e buscamos aquilo que achamos ser a função principal de uma escola de samba, trabalhar pela cidadania. Pensando assim, nos perguntamos, qual seria o preço da liberdade?".
Uma comunidade mobilizada
A comunidade da Lagoa da Conceição, berço da União da Ilha da Magia, vive hoje um processo de mobilização em defesa da sua qualidade de vida. Em outubro, o cineasta Eduardo Paredes, que vive lá há mais de 30 anos, divulgou manifesto em apoio ao movimento que tem entre os sambistas os mais atuantes defensores. Segundo ele, a especulação imobiliária pode comprometer a qualidade de vida no local.
O movimento denunciou que o sonhado Parque da Lagoa, na área do Vassourão, está ameaçado: depois de desmatarem parte do terreno, os proprietários da área colocaram placas informando sobre a expedição de licenças ambientais para construção de mais um condomínio.
A região atualmente é utilizada como campo de pouso de vôo livre. Paredes lembrou que 53 entidades assinaram uma representação, encaminhada às autoridades, visando ao tombamento daquela área para formação do Parque da Lagoa. Apenas o Ministério Público Federal deu algum tipo de satisfação.
Uma opção realista que dá certo
Tal como aconteceu na vitória da Vila Isabel, em 2006, a audaciosa escolha da escola de Florianópolis pode sinalizar para uma opção mais engajada e menos etérea nos enredos carnavalescos.
Eu mesmo vivi essa experiência, no carnaval do quinto centenário, em 2000, quando desfilei por três escolas: Jacarezinho, Portela e Uniã o da Ilha. As duas últimas do grupo especial, apresentavam em seus enredos trechos da história do Brasil. Na Portela, estava na ala que falava da Aliança Nacional Libertadora, e na União da Ilha, no carro alegórico denominado A Barca da Volta, com a participação de ex-exilados e perseguidos políticos. Em ambos os casos, a reação do público chegava a emocionar os próprios passistas.
Fica aí mais um elemento para a reflexão de todos Sobre o carnaval
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