Educação

[...] Arvoram-se os especialistas, jornalistas e muitos, muitos curiosos, daqueles encostados com a “barriga no balcão” de vários bares pelo Brasil, em tentativas de identificar as causas do insucesso e do sucesso da educação nacional

Um antigo ditado popular assevera que o sucesso do bom negociante é não desgrudar a “barriga do balcão”, em uma metáfora - pouco saudável - sobre a necessidade da presença do responsável pelo negócio na condução desse, diuturnamente e de forma incansável. Na educação nacional, como ocorre sempre após a liberação dos resultados de índices, como a nota do ENEM e o IDEB dos municípios, arvoram-se os especialistas, jornalistas e muitos, muitos curiosos, daqueles encostados com a “barriga no balcão” de vários bares pelo Brasil, em tentativas de identificar as causas do insucesso e do sucesso da educação nacional, espelhados nos dados desses instrumentos.

A causa está na falta de uma política de meritrocacia para os professores, afirmam uns. Investimentos em sistemas educacionais, falam outros. Equipamentos de apoio didático e estrutura da escola também é citado como fonte do sucesso. Como também diz um outro ditado, nessas horas o “filho feio não tem pai”, mas sobram genitores para os filhos bonitos, onde todos desejam fazer parte do esforço colaborativo do sucesso de municípios e escolas, assim como poucos olham para o umbigo, na busca de encontrar as causas dos insucessos aferidos em outras instituições.

Inicialmente, o quadro da educação nacional- e local- apresentado por esses índices, não pode ser ligado diretamente a uma causa ou mesmo um conjunto delas. Seria ignorar as contradições reinantes na nossa sociedade, as questões históricas que envolvem a educação nacional e até mesmo as conjunturas políticas e econômicas, fruto de injunções geopolíticas. Simplificar isso tudo em simples causas para se explicar o determinado índice seria bom, na conversa com a “barriga no balcão”, mas não resistiria a uma análise mais acurada da problemática da educação brasileira.

Mas, então, esses índices e levantamentos de nada servem? Claro que sim! São informações valiosas, que indicam situações e permitem o acompanhamento local e temporal dos impactos da política educacional, de modo a nortear discussões e a política educacional. Esses dados não são oráculos miraculosos, espelhos fidedignos da realidade em números, mas servem de bases para a avaliação da política educacional e de seus atores, como componentes valisos.
Como toda informação expressa em números, as informações oriundas desses instrumentos merecem leituras cuidadosas, contextualizadas, que não rotulem locais ou modalidades de ensino, ou ainda, que sirvam como prova científica de que determinada fórmula ou modismo pedagógico é realmente a solução. Quem trabalha com educação, com o social, sabe que isso, definitivamente, não existe. A educação é materializada em um tempo histórico, fruto da ação conjunta do Estado, da família, dos docentes e do próprio aluno, em uma conjuntura sócio-econômica, onde faz-se complexo identificar os fatores que contribuem de forma determinante para esse sucesso medido.

Apesar dessa dura realidade, um desses atores envolvidos se fez pouco lembrado nas falas acerca dos sucessos obtidos, em que pese ele se fazer sempre citado quando falam-se dos ditos fracassos constatados. Falamos daqueles que realmente estão com a “barriga no balcão”, quando o assunto é educação: o docente.

Proletarizado na rede particular, com dificuldades históricas de uma melhor remuneração na rede pública. Envolto em uma relação cliente-fornecedor, como prestador de um serviço, o professor da educação básica trabalha com pessoas, em sua tenra idade, e enfrenta desafios para estar ali, como componente orquestrador da relação ensino-aprendizagem, intensificado de funções acessórias e de outros papéis em complementação a falha de outras instituições. Sobre o docente, de forma personificada, recai a responsabilidade pela educação, sendo pouco lembrado nos momentos de glória.

Graças ao seu esforço diuturno, de dedicação com a barriga no balcão, fortalecendo os processos de mediação citados na obra de Vigotzky, segue o professor entre modismos pedagógicos, tráfico de drogas, violência escolar, organização de eventos, problemas familiares dos alunos e uma outra plêiade de atribuições e problemáticas, para ainda sim, pensando no futuro daqueles que sentam nos bancos escolares, fazer o seu trabalho.

Valorizar o professor é valorizá-lo socialmente. Não é só salário! É salário digno e atrativo, capacitação permanente, condições materiais de trabalho, plano de carreira, direitos e deveres bem estabelecidos e respeitados, uma gestão democrática e ainda, um processo de avaliação do seu trabalho que envolva as diversas questões do ensino-aprendizagem e não simplesmente a medição por índices.

Sem a real e efetiva valorização desse componente educacional- o professor- de pouco adiantam equipamentos modernos, escolas bonitas, crianças bem alimentadas, bom material didático. Esses recursos não prescindem a intermediação do docente, pois a magia de aprender não pode adquirir a sua excelência sem a presença de outro ser humano, a quem cabe a tarefa de envolver todos esses equipamentos, prédios e alunos em uma dança de conhecimento a ser construído. Com muito suor...

Nenhum comentário:

Postar um comentário