por Cesar Maia

FUSÃO DE PARTIDOS: SINERGIA OU DISFUNÇÃO?
                  
1. Alexander Bogdanov, no entorno de 1915, desenvolveu uma teoria geral dos sistemas que chamou de tectologia. Para ele, existiam três tipos de sistemas: a) complexos organizados em que o todo é maior que a soma das partes. A isso a administração chamou depois de sinergia. b) complexos neutros, em que a organização e a desorganização se anulam mutuamente. c) complexos desorganizados, em que o todo é menor que a soma das partes. A isso a administração chamou mais tarde de disfunção.
                  
2. A fusão de dois partidos políticos só é um processo simples quando o tamanho de um deles é insignificante perto do outro. Melhor seria chamar de assimilação. Mas quando dois partidos políticos se equivalem, a fusão é um processo complexo, especialmente num país continental como o Brasil. Alguns partidos substantivos no Brasil surgiram por processos de desagregação, como os casos do PSDB e do DEM. Esse é também um processo simples, porque as partes homogêneas de um partido se separam para formar outro partido.
                  
3. Não é sem razão que nunca no Brasil, nem no Império, nem na República ocorreram fusões entre partidos políticos substantivos. A complexidade ocorre por diversos subsistemas que teriam que se acomodar. Em nível das direções nacionais, sempre haverá como compor num diretório nacional e numa executiva nacional. Mas quando os espaços de cada dirigente começam a ser definidos, termina a simplicidade. Isso sem falar nas estruturas administrativas de cada qual. Quando se desdobra isso em nível dos 27 estados e 5.565 municípios, muito mais.
                  
4. Mas, além disso, existem as listas de vereadores por Município, deputados federais e estaduais por Estado, cuja agregação produzirá riscos maiores ou menores para centenas de parlamentares. E ainda há os espaços de liderança a serem definidos. E, também, em todos os níveis, os órgãos de representação especial, como imprensa, mulher, institutos e fundações...
                  
5. E se não bastasse, tal decisão produziria uma redução à metade das lideranças no Senado, na Câmara, nas Assembleias e Câmaras de Vereadores, assim como estruturas respectivas. E o tempo de argumentação.
                  
6. O novo partido, independente da denominação que mantenha, terá que incorporar em seu programa os programas dos dois. E, especialmente, os elementos diferenciadores desses programas, abrindo uma luta ideológica de saída no novo partido.
                  
7. Finalmente, a legislação eleitoral que permite, havendo fusão de partidos, que os parlamentares (vereadores, deputados, senadores) e os executivos (prefeitos e governadores) que se sintam prejudicados mudarem de partido. Não é preciso analisar no detalhe para saber que alguns deputados federais e vários deputados estaduais e vereadores usarão essa circunstância para mudar de partido, com alegações orgânicas. O novo partido ficará parlamentarmente menor.  As únicas coisas que somam são: tempo de TV e o Fundo Partidário, o que também vai gerar atritos pelo uso.
                  
8. Isso tudo levaria a uma enorme disfunção. Seria como um barco com 10 remadores em que metade remaria num ritmo e outra, em outro. Portanto, colunas, matérias e notícias na imprensa, reuniões e avaliações entre políticos, artigos de analistas sobre fusão de dois grandes partidos nacionais é pura perda de tempo. Puro diletantismo. Repetindo: no Brasil -no Império e na República- nunca houve fusão de dois grandes partidos. Nem haverá. Melhor gastar o tempo com coisa séria.

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