Nos subterrâneos do poder o jogo do vale tudo das velhas raposas

Nessa briga por nomeações e liberação de emendas o que querem mesmo é meter a mão na massa

 "Há apoios que matam. Se não matam imediatamente, matam a prazo".
José Saramago, escritor português, Prêmio Nobel de Literatura.

O jogo do poder tem lógicas que a própria lógica desconhece. É em seu interior que se travam os embates mais frontais, apesar de escamoteados ou vazados de forma propositalmente esmaecidos. Esses conflitos são muito mais acirrados e de efeitos mais perversos do que as pugnas entre adversários públicos. Politicamente, são letais, muitas vezes.

O poder é a razão de ser da sociedade humana. Poder é tudo e tudo o mais a seus encantos se subordina. A busca dele não é um ato meramente político. Nem tampouco apenas uma inescrupulosa disputa de vantagens pessoais insaciáveis. Há um elemento crucial que se enxerta em seus movimentos frenéticos: a afirmação existencial, de exposição discreta, se considerarmos a naturez a humana, contaminada de sentimentos controvertidos e, na maioria das personalidades, sujeita à fogueira das vaidades, à inveja, aos complexos de superioridade e a outras deformação do instinto.

Em geral, a luta pelo poder aproxima personagens diferenciados. A conquista dele aguça as contradições. Até mesmo nas revoluções impregnadas dos pudores mais dogmáticos, a visão diferente do poder opera dissensões incontroláveis. O poder é a mais estonteante expressão da faca de dois gumes, mormente quando exercido por elementos heterogêneos.

No serpentário é cobra engolindo cobra

Aplicados à realidade brasileira, esses predicados ganham o verniz grosseiro da hipocrisia cultivada. Nestas terras, o jogo é mais pesado, porque hegemonizado por elementos bestiais, primários, medíocres, boçais e de um arrivismo sem freios.

No Brasil, mais do que em qualquer outra paragem, o exercício do poder se assemelha a um se rpentário – é cobra engolindo cobra. Até mesmo na ditadura, com todos os vetores sob vigilância férrea, num ambiente monolítico de desconfiança e medo, foi necessário o revezamento pacífico entre cinco generais, num processo de lutas internas, mantidas em segredo, mas reveladoras de ambições individualizadas e entrechoques negociados.

Condutas heterodoxas tornaram-se regras rotineiras. Os elementos impertinentes de perfídias e rasteiras preponderam em todas as etapas na relação com o poder, na sua busca, na sua sustentação e na tentativa de resgate, em caso de perda.

A esperteza não tem limite e prospera como exemplo a ser imitado. Há políticos que se dão bem invariavelmente em toda e qualquer situação. José Sarney é a referência mais escandalosa desse uso triunfal do poder, mas não é o único. Ele por si serve como demonstração patética da falta de dignidade dos homens públicos de todos os partidos, de todas as correntes, de todos os recantos.

< SPAN style="COLOR: red">Aguerridos fora do poder, agarrados quando nele encastelados


A vida política aqui alcança os mais clamorosos índices de degeneração. O convívio promíscuo entre gestores e clientes do Estado, sugerindo todo tipo de suspeita, não é exclusivo desse o daquele governante. É uma prática deprimente de que não se faz segredo.

Não se pode dizer que existam partidos fiéis a suas bandeiras, aos enunciados de suas siglas. Dizer que há partidos coerentes já é render-se à ingenuidade pueril. Pior será tentar perscrutar-lhes o comportamento. Com diferenças de verniz, são todos semelhantes: aguerridos fora do poder; agarrados ao poder, quando nele encastelados.

Vivemos hoje mais uma variável dos conflitos políticos sem causa. Tanto que o senador Pedro Simon, respeitado por atitudes sintonizadas com a indignação popular, gastou todo o seu latim para reportar-se a um jogo de pressões sujo e perigoso, que mantém oste nsivamente a presidente Dilma Rousseff na condição de refém da maioria parlamentar, maioria movida ao pior dos combustíveis para ocupar todos os cômodos do governo.

Em discurso no Senado, nesta quarta-feira, Simon fez um apelo dramático:
- Resista, presidente, a essa corrupção que invade, ao longo da história, o nosso país. Não aceite indicações que não tenha o lastro da ética. É preciso saber em nome de quem falam os interlocutores. Que interesses reais movem as suas indicações? O bem coletivo ou interesse individual de pequenos grupos?

E foi mais enfático ainda:
- Bom será o dia em que o Congresso votará apenas e tão somente segundo as convicções dos parlamentares, segundo devem ser as aspirações de quem eles representam. Quem sabe, esta postura (da presidente) seja então o início de uma reforma política, ou, pelo menos, de uma reforma de condutas políticas.

Foi a constatação desse conluio de proxenetas políticos que me levou a imaginar qual seria a postura de Leonel Brizola, se vivo fosse, neste exato momento.

Piratas e a marinheira de primeira viagem

Há, sim, um conflito diferente de consequências imprevisíveis nesses podres poderes. É como se o valhacouto de piratas psicóticos estivesse jogando com a "pouca vivência" da presidente da República, valendo-se igualmente das circunstâncias de sua eleição ao comando do país na esteira do prestígio do Sr. Luiz Inácio, que acumulou capital eleitoral em seus oito anos de mandato e se habilitou para fazer o sucessor.

Os políticos astutos martelam o inconsciente vulnerável da ex-guerrilheira, com tempo mínimo de casa no próprio partido que, até sua escolha, exclsuiva do presidente,  fervilhava nas disputas internas por indicações, das quais a única exceção era o próprio Lula, reconhecidamente maior do que a legenda, assim como Brizola foi enes vezes maio r do que o PDT.

 Em suma, a tratam como marinheira de primeira viagem, sujeitando-a por bem ou por mal aos caprichos dos seus interesses espúrios, numa roda viva imobilizante.

Um dos dois ministos emplacados por Sarney, Pedro Novais
decidiu desviar dinheiro do turismo para ponte no Maranhão

 
Conspiram sorrateiramente pela repartição do poder em quinhões, nos quais cada um fica à vontade para fazer e desfazer, dispondo a seu bel prazer das verbas públicas, tal como aconteceu com o ministro do Turismo, o maranhense Pedro Novais, um dos apadrinhados de Sarney, que desviou recursos de sua pasta para a construção de ponte em São Luiz e virou as costas para os outros 26 estados da federação.

Queda de braço de consequências imprevisíveis

A tentativa de formar feudos no governo tem levado Dilma Rousseff à corda bamba, induzida a conclusões equivocadas, que não refletem sua visão histórica e sua trajetória. Foi o caso da encenação sobre o sigilo eterno, manipulada por Sarney e Collor, sob o pretexto velhaco de revelações desagradáveis de idos seculares. E das mudanças nas regras de licitação para obras da Copa e Olimpíad as, dois pepinos dos quais falarei em outra oportunidade.

A bem da verdade, como já disse antes, o cerco a Dilma move todos os prepostos de interesses, independente da legenda ou, até mesmo integrantes do seu próprio partido, infestado de "emergentes" deslumbrados e seduzidos pelo canto das sereias, aquela armadilha que obrigou Ulisses a tapar com cera os ouvidos dos seus soldados.

Até o presente momento, ela tem resistido como legítima chefa do governo na escolha dos auxiliares. Pôs quem considerou mais adequado nos cargos disponibilizados recentemente e contrariou os velhos caciques, embora, admita-se, não será novidade se a pressão orquestrada a fizer render-se ao fatiamento do poder, para além do que já foi repartido, dentro da lógica da coligação e da governabilidade condicional.

Estamos diante de uma queda de braço de desdobramentos imprevisíveis. Não é necessariamente da natureza clássica dos conflitos essenciais. Mas o e nclausuramento virtual da presidente, com seu direito à liderança minado e sob risco de  mãos atadas, repercutirá inevitavelmente sobre o principal, eis que os discursos públicos não passam de jogo de cena, que escondem a guerra suja pelos cordéis, conforme aqueles elementos da lógica matreira citados na abertura desta coluna. (PEDRO PORFÍRIO)
 
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