Há anos - e, mais ainda, agora - a política econômica brasileira fica na dependência do que poderá ocorrer no mundo.
Semana sim, semana não, o Ministro da Fazenda Guido Mantega adverte os países industrializados sobre os riscos da guerra cambial, dá lições (necessárias) aos Estados Unidos, conclama a OCDE, o FMI, o G7, o G20 e o G70 a agirem.
Internamente, até se permite algumas medidas legais para segurar o movimento especulativo.
De resultado concreto, nada. Fica-se nessa "vitória moral" de sustentar que, sem as medidas, o quadro poderia ser pior.
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No começo do ano, havia o nó da bolha de commodities pressionando a inflação. Sabia-se que tenderia a refluir a partir de maio, junho.
Mesmo assim, o terrorismo mercado-midiático inibiu a atuação do Banco Central, amarrou medidas mais drásticas contra o fluxo especulativo e o induziu a novos aumentos da taxa de juros.
Agora, a inflação está cedendo. E o dólar continua a cair.
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Antes de ontem, na gravação do programa "Brasilianas.org" - sobre a proposta de transformar o Brasil em uma potência siderúrgica - o que se viu foi o mapa do desastre imposto ao país pelo câmbio.
Presidente do INDA (Instituto Nacional de Distribuidores de Aço) Carlos Jorge Loureiro esteve esta semana em um congresso internacional de siderurgia. Há problemas de monta no mundo, com a formidável explosão da produção chinesa. Hoje em dia a China tem capacidade de produzir 700 milhões de toneladas/ano, contra 33,1 milhões do Brasil. Há ameaças permanentes de formação de bolhas especulativas seguidas de estoques enormes, que são despejados no mercado a preço vil.
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Em suma, um quadro de borrasca e tempestades. E nada pode ser feito no país porque o câmbio inviabiliza qualquer tentativa de recuperação do setor. Não há nenhuma possibilidade de investimento novo.
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A ArcellorMital de Tubarão, por exemplo, teve problemas em um alto-forno no passado. Foi resolvido. Mas a empresa prefere manter desligado porque a produção destina-se apenas à exportação. E, mantido o câmbio atual, qualquer tentativa de exportação será gravosa.
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No setor de distribuição, criou-se enorme bolha em cima de produtos. Até transportadoras se tornaram importadoras de produtos siderúrgicos, graças aos enormes ganhos proporcionados pela bolha cambial e creditícia.
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No setor de máquinas e equipamentos ainda não houve demissão em massa em função de um fenômeno registrado a partir dos anos 90. O setor se desverticalizou, criou uma enorme estrutura de pequenas empresas terceirizadas que trabalham o aço, depois de comprado. As importações têm garantido a produção do setor - embora o volume de equipamentos importados ocupe cada vez mais espaço nas vendas. Mas a cadeia de fornecedores está sendo dizimada e não aparece nas estatísticas porque é setor não organizado, sem dados consolidados.
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Quando um preço fundamental, como o câmbio, fica fora de lugar, pipocam desajustes por toda a economia. Criam-se bolhas cambiais, bolhas de crédito (graças ao dinheiro mais barato trazido do exterior) e até essa loucura de bolha especulativa com aço.
A pior herança não são esses movimentos pontuais de bolhas infladas e furadas, mas o tempo que se levará para recompor no tecido industrial puído por esses tempos de incúria cambial.
Importações de aço
Em 2010, as importações internas de aço supriram 20% da demanda no Brasil - historicamente essa margem foi de 4% a 6%. Em 2010 o consumo aparente de aço no Brasil foi de 26,8 milhões de toneladas - quantidade 44% superior a consumida em 2009 e 11% acima de 2008. Desse total (26,8 milhões de toneladas), 5,9 milhões de toneladas foram importadas - crescimento de 154% em comparação ao que foi importado em 2009 e 123% em relação a 2008.
Produção interna
A produção de aço bruto no Brasil estimada pelo Instituto Aço Brasil (IABr), em 2010, foi de 33,1 milhões de toneladas - quantidade 25% superior a de 2009. As vendas internas aumentaram 30,4% em relação a 2009 (21,3 milhões de toneladas). As exportações de produtos siderúrgicos no ano de 2010 totalizaram 8,7 milhões de toneladas e 5,5 bilhões de dólares - apenas 1% superior em relação ao total de dólares comparado a 2009.
O excedente de produção mundial
Segundo o WorldStell Association, existe hoje no mundo um excedente de capacidade de produção de aço em torno de 500 milhões de toneladas. Em consequência disso os preços no mercado mundial estão artificialmente baixos.
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