Sempre poderá contar com um ombro acolhedor, uma mão que se estende, alguém que chora e se alegra com as suas dores e as suas alegrias.
E quando se deseja presentear um amigo, o que se deve dar?
Por vezes, ficamos preocupados, porque desejamos ofertar o melhor ao amigo e nos faltam recursos amoedados.
Essa indagação nos recorda de uma história que aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial, em terras alemãs.
O tempo era de escassez, de medo e perseguições. A família era alemã, em solo alemão, ocultando, na intimidade da sua casa, um judeu.
Pior que tudo: um judeu enfermo. E Max era isso: um judeu muito doente.
A menina da casa lhe cedeu a cama. Ela já fora conquistada por aquele homem solitário e tão perseguido. Somente por ser judeu.
Fora conquistada pela sua forma de parecer invisível, de não desejar incomodar, de quase se sentir culpado por existir.
Quantas horas haviam passado juntos! Mas agora ele estava ali, imóvel, sobre o leito e o prognóstico não era dos melhores.
Não se podia chamar um médico para medicá-lo. Isso significaria prisão para todos.
Não havia nada que se pudesse fazer. A não ser amá-lo.
A menina pensou que se lhe desse motivos para viver, Max retornaria à vida, sairia daquele torpor em que a febre, a tristeza ou o que fosse o mergulhara.
Assim, todas as tardes, ela passou a ler, em voz alta para ele. Era um livro de quase 400 páginas.
Ela lia, falava com Max e o convidava a acordar, dia após dia.
Depois ela pensou em lhe levar presentes. Primeiro, foi uma bola furada que encontrou na rua.
Ela queria que ele tivesse motivos para viver. Achou uma fita na sarjeta, um botão encostado numa parede da sala de aulas, uma pedrinha chata e redonda do rio.
Todos os dias, voltando da escola, ela procurava algo que pudesse levar para ele.
Um invólucro de bala liso e desbotado. Uma pena linda, encontrada presa na dobradiça de uma porta.
Finalmente, ela quis lhe dar uma nuvem.
Como se pode dar uma nuvem a alguém?
Então a descreveu para Max.
Era uma nuvem gigantesca. Como uma grande fera branca e veio por cima das montanhas.
Imaginou a nuvem passando de sua mão para ele, através dos cobertores. E a escreveu num pedaço de papel, colocando a pedrinha em cima.
Tudo era deixado na mesa de cabeceira. Os tesouros de uma menina para um judeu que tinha perdido a vontade de viver.
Finalmente, um dia, ele abriu os olhos.
Quando ela o viu, ele estava sentado na cama, com a bola murcha de futebol no colo.
Max sorria, acariciando cada um dos preciosos presentes na mesa de cabeceira.
Adorei a nuvem! - disse ele.
E não voltou a adoecer.
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