1. Ex-capitão do exército, preso numa tentativa de golpe, integrante do movimento nacionalista-indigenista-socialista, ascendeu como seguidor de Hugo Chávez e, com esse apoio, foi ao segundo turno na eleição de 2006, perdendo por margem estreita para o atual presidente Alan Garcia. Voltou a ser candidato nessa eleição presidencial de 2011, indo ao segundo turno contra a filha de Fujimori. Aliás, tanto Fujimori quanto o irmão de Humala, participante da tentativa de golpe, se encontram presos.
2. As primeiras pesquisas sinalizaram a rejeição ao projeto chavista no Peru. Humala contratou uma agência dirigida por Favre, do PT do Brasil, ex-esposo de Marta Suplicy. Favre reconstruiu, na campanha, o perfil de Humala, clonando a campanha de Lula de 2002. Subiu nas pesquisas e foi ao segundo turno, vencendo por estreita margem. No segundo turno, intensificou a ideia que era o Lula do Peru e não Chávez. Ou seja: seria o pai dos pobres com responsabilidade econômica.
3. A economia peruana nos últimos 10 anos é a que tem as maiores taxas de crescimento da América Latina, os melhores fundamentos macroeconômicos e a menor inflação. Assim mesmo o presidente Alan Garcia não conseguiu emplacar sua candidata a presidente, que se retirou na metade do primeiro turno. E o ex-presidente Toledo, que é parte deste ciclo expansivo e positivo da economia peruana, sequer foi ao segundo turno, alcançando o quarto lugar. Ficou entendido que a razão de ambos foi a dificuldade de implementar uma politica social agressiva, tipo bolsa-família.
4. No segundo turno, Toledo e Vargas Llosa -paradoxalmente- apoiaram Humala, justificando como defesa da democracia pela opção ser a filha do ex-presidente Fujimori, preso. Mas os liberais e conservadores apoiaram Keiko. Prevaleceu a imagem de um novo Humala -no perfil de Lula.
5. Mesmo que Humala não traia a imagem reconstruída dele, essa será uma tarefa muito difícil. Sua base de apoio -entre os mais pobres, entre os indígenas, nos setores à esquerda- exigirá que pelo menos as politicas de inclusão social de Lula sejam aplicadas. E aí virá o problema. A economia vai bem, as reservas internacionais alcançam 47 bilhões de dólares, o PIB cresce a taxa de 6% a 7%, a balança comercial, apoiada em produtos minerais, é superavitária em uns 4 bilhões de dólares (34 x 30), a taxa de juros do Banco Central alcança 4,25%, a inflação 2,5%...
6. O parlamento pulverizado não lhe dará maioria para aventuras, como um golpe parlamentar tipo Chávez com convocação de uma constituinte para mudar tudo. No Peru não há reeleição e o parlamento não tocará nesse ponto. Portanto, as regras do jogo estão dadas. E o que é natural -até pela escolha dos titulares da economia- será rolar a situação atual.
7. Mas virão as pressões de sua base pelas expectativas criadas e pela imagem exagerada de Lula. E aí virá o ponto de estrangulamento, o mesmo de Toledo e Garcia, que impediu a adoção de políticas de inclusão social agressivas. A carga tributária no Peru alcança apenas 17% do PIB. Com essa carga tributária não há como realizar uma politica social expansiva. Durante um tempo se pode usar as reservas internacionais.
8. Mas, no momento em que as reservas começarem a cair e Humala tentar criar ou ampliar tributos, se verá de frente a uma enorme dificuldade. Lula não teve essa dificuldade, pois coube a FHC ampliar a carga tributária. Sem flexibilidade fiscal e com as reservas caindo, seu caminho será a inflação para financiar o gasto social. E, daí por diante, já se viu o filme: os fundamentos econômicos são afetados, o crescimento diminui, o desemprego aumenta, a pressão politica cresce, os conflitos parlamentares idem, as expectativas não são atingidas, os ex-presidentes se mostrarão decepcionados, a imprensa será culpada, etc., latinoamercanamente...
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