Turista permanente



Em Havana descobri que nunca vou passar desapercebida. Seja pelo modo de vestir ou pelo sotaque na hora de falar (falo espanhol fluente mas não tenho sotaque "cubanês"), todas as vezes em que saio pelas ruas sou abordada várias vezes.
A cada minuto, taxistas vão me chamando com um assobio que parece para cachorro e gritando: táxi!
Já me aconteceu de estar descendo de um carro e outro motorista me gritar, mesmo tendo me visto sair do automóvel anterior.
Outra abordagem muito comum é a de venda de charutos. Como essas pessoas são ilegais, elas esperam que você passe bem pertinho nas calçadas das principais ruas da cidade para oferecer seus "cuban cigars".
Variações de oferta também ocorrem para passeios, artesanato e "lugares excelentes para comer".
No centro da cidade, são mães que treinaram crianças para dar a mão aos turistas que, inocentemente, acham que é um simples gesto infantil até a mãe aparecer.
São senhoras idosas reclamando que não podem pagar a conta de luz ou gás. Inclusive uma delas, desde a última vez que estive aqui, há quatro anos, continua no mesmo lugar e com o mesmo discurso.
São pessoas na porta dos supermercados, lojas, das casas de câmbio e bancos, entrando nos restaurantes, bares, e jovens na rua sem a menor cerimônia pedindo presentinhos que você possa ter na mala. 
Os favoritos são sabonetes, canetas e chocolates.
Outro dia uma senhora me pediu uma caneta. Abri a bolsa e dei. No que ela imediatamente retrucou: não tem mais, eu tenho 3 filhos! (Só que, infelizmente, não ando com 3 canetas na bolsa).
Alguns guias turísticos sobre Cuba, inclusive, recomendam levar essas coisas na mala e distribuir na rua.
Como resultado, muitos dos turistas que passam por aqui deixam para trás os produtos de higiene pessoal (que só se encontram em dólar ou de péssima qualidade em peso cubano), além de camisetas e outras peças de roupa que possam doar.
O que acaba criando o fenômeno das camisetas bizarras, mais ou menos o que acontece no Brasil com as camisetas de candidatos e patrocínios.
Se não acreditam em mim, perguntem a alguém que esteve recentemente visitando Havana.
A diferença é que, se você mora aqui e passa por isso todos os dias, o desgaste é inevitável. De qualquer maneira, se planeja visitar Cuba, recomendo que venha com presentinhos se quiser, mas que, principalmente, venha com uma boa dose de bom humor e paciência na mala.
Os gritos em cada esquina te farão lembrar de mim quando perguntarem, pela décima vez: "Where are you from?"

Cubano vendedor de manga abordando "gringo" em bar
 Ana Carolina, jornalista, couchsurfer e autora do blog "Eu moro onde você tira férias"

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