O Brasil, depois de mais de 500 anos de vida, enfim pode assumir a paternidade de seus filhos. E o fez de uma forma exemplar, decidida e generosa, não se furtando a estender a mão a milhões deles que viviam no limiar da miséria, por sobre a tênue divisa que separa a pobreza da fome. Nosso país, com atraso de séculos, mas ainda a tempo, está cumprindo seus compromissos inadiáveis com os filhos desta pátria amada.
Durante os anos 90, a chamada "década perdida", quando a moda era entregar o patrimônio público a preço de banana, exorcizar a "herança de Getúlio Vargas", combater o "Estado paternalista", tachar de "anacrônico" e de "arcaico" tudo o que não rezasse pela cartilha do neoliberalismo mais frio e ortodoxo, nosso país virou as costas para seus filhos. Não se comportou como pai, sequer como padrasto: foi implacável inimigo dos direitos trabalhistas, das conquistas sociais, dos avanços institucionais e políticos da grande massa trabalhadora. Tristes tempos, cuja lembrança é dolorosa, mas necessária.
A expressiva maioria dos brasileiros sentiu o gosto amargo do abandono e do desamparo. O desemprego, as dificuldades de sobrevivência, a inflação galopante, o achatamento salarial, as humilhações de um país onde o presidente desqualificava os aposentados chamando-os de "vagabundos", um desprestígio internacional jamais visto e a auto-estima abaixo de zero eram os ingredientes que se caldeavam para deprimir os brasileiros e não permitir que eles amassem, mais ainda, um país que deveria cuidar de cada filho seu, protegê-los, dar-lhes garantias e resguardar-lhes direitos. Não era assim.
O Brasil cobrava os deveres de cada um, mas não retribuía aos seus cidadãos com uma vida melhor e um país mais justo. Havia uma diferença abissal, imensa e impressionante entre o país que almejávamos e o que tínhamos. A exclusão social, refletida num quadro de clamorosa injustiça econômica e ausência de oportunidades, era a regra de um Brasil concebido para uma pequena elite e sem qualquer compromisso com a grande massa trabalhadora.
Lembro-me de um filme belíssimo, do grande cineasta argentino Fernando Solanas, onde se retrata o sofrimento dos exilados argentinos durante a ditadura militar e o sofrimento dos que ficaram naquela Nação-irmã durante os anos de chumbo. Premiadíssimo, "Tangos, o exílio de Gardel", é encerrado por uma cena tocante, onde um grupo de jovens filhos de exilados em Paris, entoa linda canção que fala de "um país que me ajude a viver". Separados de sua terra pelo Oceano Atlântico, pela ditadura militar e pela saudade, persistiam no amor por um país que mal conheciam e com o qual sonhavam. Isso jamais me saiu do pensamento: os países devem ajudar os povos a viver melhor. Essa é a função principal dos governos, dos regimes, em qualquer época, em qualquer situação, em qualquer continente, sob qualquer aspecto.
Conseguimos o que muitos julgavam impossível: hoje vivemos num Brasil que está resgatando enorme dívida social, correndo atrás do prejuízo de décadas e séculos de descaso para com seu povo mais humilde e lançando as bases de uma Nação vitoriosa e desenvolvida. Vivenciamos um tempo que jamais esperamos presenciar: o de um Brasil que atravessa incólume os temporais causados pelas crises econômicas internacionais, sem que isso represente qualquer perigo ou dano. Atingimos a maturidade política, econômica e social. E isso vem se refletindo de forma eloqüente e insofismável em diversos fatos e dados. Enquanto os Estados Unidos, enfrentando lamentável e inédita crise, vêem sua credibilidade esvair-se e tem sua categoria no mercado econômico internacional rebaixada pela Standard & Poors, outra importante agência de classificação de risco, a japonesa Rating and Investiment Information, elevou a classificação dos títulos emitidos pelo Brasil, demonstrando a solidez de nossa economia e a competência da condução empreendida pelo governo do presidente Lula e consolidada pelo da presidenta Dilma Rousseff.
Há tanto para se fazer no Brasil... Mas já recuperamos muito do que deixou de ser feito, do que era inadiável, do que devíamos para mais de 40 milhões de irmãos nossos que saíram de condições desumanas e hoje estão agregados ao mercado consumidor, com melhores condições de vida, trabalho, saúde, alimentação e moradia. Os avanços na área da educação são impressionantes! As gerações que estão sendo preparadas nos bancos escolares e as que já disputam o mercado de trabalho são, seguramente, um retrato fiel do Brasil competitivo, trabalhador e brilhante que desponta como um dos líderes do planeta no século XXI.
Pensei em escrever sobre o Dia dos Pais. Lembrar meu velho e adorado pai, "seo" Catonho, agricultor lá em Buriti Alegre, no interior goiano. Falar de sua força de trabalho, de seu caráter inquebrantável, de sua reconhecida bondade, da lucidez absoluta de um homem do povo. Não é necessário - já que nossos sentimentos mútuos se expressam por um simples olhar - até por uma ironia imensa do destino: semi-alfabetizado ele formou os quatro filhos e é mais sábio que todos eles. Então, transfiro a homenagem ao país que assumiu grandiosa paternidade, não abdicou de suas responsabilidades e está ajudando seus filhos a viverem melhor.
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