Economia: A mão suja que embala a crise

 Merkel e Sarkozy acenaram nesta 3º feira com vagas promessas de um governo único europeu e taxação das operações financeiras para encobrir o imediato e o principal:o veto franco-prussiano à unificação fiscal europeia. Apontada por vários analistas e governantes como única forma de evitar a derrocada econômica do euro, a questão extrapola o interesse específico e toca numa das artérias que irrigam crise mundial: a supremacia da lógica financeira sobre a ordenação política do desenvolvimento e da sociedade . Grosso modo, a união fiscal implica em redistribuir entre os 17 países-membros da UE os sacrifícios pelo equilíbrio orçamentário de nações altamente deficitárias, casos da Grécia, Itália, Espanha e Irlanda, entre outras. Alemanha e França alegam, com alguma razão, que a união fiscal puniria seus contribuintes pelos desmandos de outros países. 

O raciocínio tem lógica, mas omite um fato imperativo: Itália e a Espanha teriam falido na semana passada se deixadas a própria sorte, nas mãos de especuladores e credores em fuga. A derrocada, como se viu, rapidamente contaminou a economia do euro. Ações de bancos franceses atrelados a carteiras de títulos italianos e espanhóis despencaram disparando o alarme de uma crise bancária em Paris. Calcula-se que os bancos europeus carreguem carteiras lastreadas em dívidas de governos no valor de 1,5 trilhão de euros. Qualquer suspeita quanto à liquidez desses papéis contagia as ações de seus portadores. A dupla ruptura só não ocorreu na semana passada porque o Banco Central Europeu agiu contra os próprios princípios ortodoxos. Comprou 22 bilhões de euros em títulos italianos e espanhóis, devolvendo algum lastro de liquidez ao mercado, que freou a fuga de fundos de investimentos. 

Em ponto pequeno, a resistência quase separatista de elites do sudeste brasileiro a políticas fiscais e sociais que beneficiem o Nordeste e seus pobres obedece à mesma lógica que calcifica a crise do euro.

 No Brasil, o governo Lula remou contra a corrente. Programas sociais, como o Bolsa Família (50% dos beneficiados são nordestinos) e a desconcentração regional do investimento público ( cerca de 36% dos recursos do PAC são destinados ao Nordeste) redesenharam o mercado interno criando contrapesos endógenos à contração da economia mundial. 

A união européia, em vez de Lula, tem dois centuriões dos mercados que, ademais, vocalizam, em vez de contrastar, o individualismo mórbido de uma cidadania reduzida à expressão do consumidor e do contribuinte. 

As bolsas européias despencaram nesta 3º feira. Como diz Conceição: a crise será longa.
Carta Maior


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