Inside job

 Começa com cenas da Islândia, 320 mil habitantes, PIB de US$ 13 bilhões, democracia estável, vida saudável, baixo desemprego, quase nenhum crime, o lugar que qualquer pessoa gostaria de morar. De repente, há uma desregulamentação do sistema bancário, três pequenos bancos estatais são privatizados. O sistema financeiro assume o controle do país, permite a invasão por empresas poluidoras. O país quebra com uma dívida de US$ 100 bilhões.

O desemprego campeia, o país paradisíaco torna-se um pária da economia mundial.

Pouco antes de quebrar, a Islândia foi considerada AAA (a mais alta classificação das agências de risco) pela KPMG. Economistas ilustres norte-americanos escreveram teses mostrando um país sem risco, com regulação firme – depois, se soube que as teses foram financiadas por associações empresariais islandesas.

Antes da quebra, um terço dos auditores financeiros do Banco Central passou a trabalhar para os bancos. Advogados das agências reguladoras foram trabalhar em grandes escritórios de advocacia privados.

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É apenas o início da história. O restante do documentário focaliza os episódios ocorridos nos Estados Unidos e mapeia os principais personagens do golpe do século.

Pode ter sido novidade para muitos. Em meu livro "Os Cabeças de Planilha" – lançado em 2005 mas em cima de colunas publicadas nos dez anos anteriores – já tinha feito esse mapeamento, previsto a crise que viria e identificado os personagens dessa trama.

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No centro estão os gestores de recursos. Com a desregulamentação financeira, passam a gerir recursos lícitos, de grandes grupos, recursos oriundos de sonegação fiscal e recursos do crime organizado.

O meio campo com os governantes se dá através de acadêmicos cooptados e de jornalistas financeiros que se tornam porta-vozes do mercado. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos são esses acadêmicos que assumem postos de comando na área econômica, apressam a desregulamentação máxima e montam a ponte entre políticos e gestores. Fornecem o discurso para os governantes (é só conferir as declarações de Bush, Clinton e demais sobre a era de prosperidade).

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Outro personagem recorrente são homens de mercado – ou de instituições públicas – que assumem postos em órgãos de regulação de olho na sua carreira posterior no próprio mercado financeiro.

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As agências de risco assumem um papel proeminente. O documentário mostra os extraordinários golpes da Standard & Poor's, concedendo notas máximas a papéis e derivativos de bancos, enquanto os próprios bancos apostavam na baixa do papel.

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No documentário, duas constatações chocantes. A primeira, de como Obama, que fez sua campanha em cima de críticas contra o sistema financeiro, acabou se cercando de consultores ligados aos sistemas – provavelmente com medo de tomar medidas que agravassem a crise.

A segunda, o fato dos golpes terem sido claramente desmascarados. E ninguém ter sido punido.

por Luis Nassif



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