América do Sul recupera ideias de Eliezer Baptista

No final do governo Collor, a Secretaria de Assuntos Estratégicos foi entregue a Eliezer Baptista, o mítico fundador da Companhia Vale do Rio Doce. Em pouco tempo ele preparou um amplo trabalho sobre os "Eixos de Desenvolvimento", pensando na integração do continente.



Não se tratava meramente da infraestrutura, mas de criar regiões de desenvolvimento em sete áreas do continente. Tornou-se a Bíblia do planejamento regional.

Após a queda de Collor, o trabalho ficou perdido em alguma gaveta do Palácio.

Depois, recuperado no início do governo Fernando Henrique Cardoso, integrou o Plano Plurianual (PPA) 1996-1999 e os programas Brasil em Ação e Avança Brasil.

***

Para dar consistência continental, em 2000 foi criada a IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana), durante a primeira reunião de presidentes dos 12 países do continente, em Brasilia.

A ideia era que os investimentos e financiamentos fossem comandados por três bancos de desenvolvimento da região, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o CAF (Cooperação Andina de Fomento) e o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

***

A crise fiscal do continente, mais a falta de prioridades de FHC para o Avança Brasil acabaram reduzindo a eficácia.

Especialmente, perderam-se duas das mais importantes visões trazidas por Eliezer: a ideia de eixos de desenvolvimento (em lugar de meros corredores de exportação) e a preocupação com o desenvolvimento sustentável.

***

O IIRSA deixou um bom legado, uma carteira de 519 projetos, metodologia conjunta de trabalho para os técnicos dos 12 países falarem a mesma linguagem, princípios claros para análise de projetos, permitindo aos técnicos nacionais conversar no âmbito multilateral.

Mas pecou por alguns erros de origem

O primeiro, o de ser uma instância eminentemente técnica. Por exemplo, um corredor ferroviário entre vários países exige uma mobilização política relevante.

***

O segundo problema é que, apesar de ter nascido com suporte de três grandes bancos regionais, não trouxe solução para a questão do financiamento das obras. Os bancos ajudaram na elaboração dos projetos mas não na viabilização financeira. Por exemplo, uma rodovia transoceânica Brasil-Peru, para ser financiada teria que obedecer aos critérios bancários convencionais. Tornava-se inviável.

***

A terceira crítica foi que, devido à ascensão de novos governos que chegaram ao poder, criou-se a desconfiança de que seriam construídos apenas corredores de exportação capazes de escoar matéria prima mas sem trazer desenvolvimento.

***

A saída encontrada foi transformar a IIRSA em um Conselho de Infraestrutura da UNASUL, a união dos países sul-americanos. Assim, atuará como resposta vertical à falta de respaldo político para as obras. E como resposta horizontal, ajudando na sinergia com os demais conselhos, como o de Economia e Finanças, o de Relações Exteriores e o Banco do Sul.

***

Em novembro será apresentado o Programa de Ação Estratégica, para o período 2012/2023 racionalizando os projetos prioritários, agrupados em 30 projetos estruturantes. Tudo dentro do espírito original imaginado por Eliezer.

Blog: www.luisnassif.com.br

E-mail: luisnassif@advivo.com.br



Nenhum comentário:

Postar um comentário