A decadência dos economistas

O financismo desregrado das últimas décadas não apenas matou boas possibilidades de desenvolvimento brasileiro, mas afetou de forma quase fatal o estudo da economia.


Repare nos jornais, programas especializados, em palestras a maneira como um economista de mercado fala de indicadores. O uso indiscriminado de números, estatísticas, a segurança com que apresentam conclusões, dá ao leigo a impressão de se estar ante uma ciência superior. No entanto, no campo mais utilizado pela economia – o dos indicadores – a dificuldade em inovar, em aprimorar, em corrigir erros de apuração é uma constante.

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Dorme-se em cima de indicadores grosseiros, sem nenhum refinamento, muitos deles sem precisão alguma. E desenvolvem-se teorias, conclusões taxativas com o único intuito de avalizar interesses muito específicos, como da confraria da Selic.

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Vamos a alguns exemplos.

Imagine dois governos construindo uma hidrelétrica. O primeiro consegue por US$ 2 bilhões; o segundo por US$ 1,8 bilhão. Pelos indicadores macroeconômicos, o primeiro seria mais eficiente que o segundo porque seu investimento foi maior. Pouco importa se foi maior por desperdício ou sobrepreço. O indicador não diferencia ganhos de eficiência, nem nada.

Imagine, agora, uma empresa brasileira importando uma máquina chinesa e depois vendendo-a com seu selo – prática comum. Os indicadores medem a importação como investimento em bens de capital e a revenda como outro investimento – uma dupla contagem.

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Outro ponto que se bate permanentemente é a necessidade do governo reduzir despesas correntes. Pouca importa quais despesas correntes.

Nenhuma cabeça pensante tem dúvidas de que educação, saúde, inovação, segurança são fundamentais para a consolidação do país. Ora, salários de professores, profissionais da saúde, remédios, alimentação escolar, gastos com universidades, policiais, são despesas correntes. Mas para esses gênios da planilha, não há diferença entre um gasto essencial e um desperdício.

Na área de gestão, por exemplo, há inúmeros indicadores avaliando eficiência dos gastos públicos, efetividade, retorno para a sociedade. Através deles, busca-se melhorar a despesa pública, aprimorar os processos, fiscalizar ações de governo. Na macroeconomia, todos os gatos são pardos.

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Outra incapacidade letal da economia brasileira é não saber (ou não querer) avaliar as chamadas externalidades de cada gasto.

Tomem-se os gastos previdenciários. Para combater a Previdência, economistas tratam do ângulo exclusivo da despesa pública – como se não fosse obrigação do Estado garantir a velhice de seus aposentados.

Ora, estudos do IBGE mostram que 55% dos aposentados são arrimo de família. Em assim sendo, o dinheiro da Previdência previne gastos em saúde (porque as famílias se alimentam com ele), em educação (porque as crianças podem estudar tendo a garantia financeira do aposentado), em segurança (porque as famílias não se desmancham na miséria) e no próprio dinamismo econômico (porque impulsionam o consumo de produtos básicos).

Jamais esses dados são colocados na balança, porque significaria comprometer suas teses e seus interesses.

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