A interiorização da violência

A violência está se desconcentrando, saindo dos grandes centros para as cidades do interior. Esta é a principal conclusão do Mapa da Violência, apresentado por Júlio Jacobo Waiselfisz, do Instituto Sangari, no Fórum Sobre Segurança Pública, do Projeto Brasilianas.

Em pouco mais de cinco anos, por exemplo, Maranhão passou de 5 para 15 homicídios por cada 100 mil habitantes.

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Há alguns fatores que explicam essa migração. O primeiro, a desconcentração do desenvolvimento econômico, com perda de dinamismo das regiões metropolitanas.

O segundo fator pode ter sido o Plano Nacional de Segurança Pública, de 1999, e o Fundo Nacional que, a partir de 2001, passou a canalizar recursos para o aparelho de segurança das regiões metropolitanas, diz Jacobo, deslocando os criminosos para o interior.

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A disseminação da violência é maior em três tipos de municípios.

O primeiro, os de zona de fronteira, no qual o crime organizado chega a dominar parte do território.

O segundo, os municípios de turismo predatório, dos quais o exemplo maior é Itamaracá, em Pernambuco.

O terceiro, o arco de desmatamento amazônico, como em Marabá, onde existe a grilagem de terra, madeireiras ilegais, extermínio de comunidades indígenas e as as áreas de pistolagem e/ou de caciquismo político, cujo exemplo maior é o polígono da seca, em Pernambuco.

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Há uma característica especial nos homicídios: não se trata de um fenômeno individual, mas social. Por isso mesmo, através das estatísticas é possível se prever índices de homicídio tanto no Brasil quanto na Suiça.

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Rogério Baptistini Mendes reforça essa visão e explica que no Brasil a violência é estruturada. Desde a colonização criou-se uma cultura da violência diferente das sociedades mais avançadas. Por isso mesmo, não se pode importar acriticamente metodologias de combate à violência.

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Jacobo concorda com essa visão e incluir Colômbia e Venezuela nessas sociedades intrinsicamente violentas.

O fato novo nas pesquisas é o aumento da violência entre os jovens, especialmente os integrantes de grupos, como as torcidas organizadas.

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O grande risco é a transformação da violência de epidemia em pandemia.

Segundo Jacobo, na faixa dos 5 homicídios por 100.000 habitantes, a violência não traz problemas. De 5 a 10, começa a fazer diferença, deixando a população desconfiada. De 10 para cima, é a fase epidêmica, na qual o cidadão não tem a menor confiança nas forças de segurança e as forças de crime começam a ocupar territórios.

A partir de 20, tem-se a pandemia estrutural, difícil de erradicar. Os índices brasileiros são de 27 homicídios por cada 100 mil habitantes.

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O especialista Roberto Genofre citou dados de pesquisa do professor Luiz Flávio Sapore, da PUC Minas. Constatou que 18,48% foram resultado do comércio de drogas ilícitas; 13,71%, de vingança; 11,62%, de relações afetivas; 8% de brigas em bares e similares.

De 2000 a 2010, estima-se que 20% das causas de homicídios foram ligados à droga, especialmente dos pequenos traficantes.

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