Não sei bem se é fenômeno contemporâneo a mania de buscar em tempo real o significado histórico dos acontecimentos. Ou se já era assim no passado. Acho que é novo.
De todo modo, parece que nossas sociedades, embebidas em informação, buscam com volúpia conhecer a História enquanto ainda é produzida. Como desejo, é legítimo. Ainda que a frustração seja certa.
E o jornalismo ajuda a avolumar a onda, por ser atividade na qual é preciso apresentar todo dia uma grande novidade.
Talvez não haja novidades em quantidade suficiente para atender a esse mercado viciado nelas, então o que não seria tão novidade assim passa a ser.
Agora, por qualquer critério o atentado às torres gêmeas em Nova York foi sim uma novidade, acho que isso ninguém ousará negar.
Foi uma baita novidade operacional e semiótica.
Aviões carregados de combustível e passageiros, atirados contra prédios altíssimos, tudo com transmissão ao vivo pela televisão.
O que não implica ter sido uma novidade política merecedora de figurar como tal nos livros de História.
As guerras do Afeganistão e do Iraque vieram na sequência, mas pelo menos sobre Bagdá não se pode dizer que tenha sido em consequência.
A Guerra do Iraque guarda elo imediato mais anterior, com a Guerra do Golfo, travada pelos Estados Unidos para pôr fim à ocupação do Kuait pelas tropas de Sadam Hussein.
O que sonhou ser imperador do Oriente Médio mas acabou mal.
Bush filho completou o serviço que o pai dele não quis -ou não pôde- concluir.
Mas qual será, afinal, a dimensão histórica dos atentados de 11 de setembro, quando o futuro tiver virado presente e der uma olhada para trás? Aí vai depender.
Se o anunciado declínio militar dos Estados Unidos comprovar-se, o ataque ao World Trade Center será ensinado nas escolas como ato fundador de uma era.
Mas se, por exemplo, a instabilidade política no mundo árabe e muçulmano produzir no médio e longo prazos sociedades encruadas, atoladas num belicismo ruidoso mas impotente, e incapazes portanto de projetar o próprio poder, o 11 de Setembro virará um sub-Pearl Harbor.
Um prelúdio espetaculoso da derrota estrepitosa.
Osama Bin Laden mandou aquele punhado de jovens conduzirem os aviões contra o WTC, o Pentágono e possivelmente o Capitólio, ou a Casa Branca, para obrigar o Ocidente a retirar-se fisicamente da maior região exportadora de petróleo no planeta
Dez anos depois, em termos práticos, os interesses ocidentais no pedaço do mundo entre o Mediterrâneo e o Índico vão bem, obrigado. A exceção é o Irã, que luta uma batalha desesperada para não ver cair o último aliado em Damasco.
Um Irã cuja retórica agressiva é apenas a outra face do isolamento muito temido.
Passada a primeira década do 11 de setembro de 2001, o Iraque antes altivo e desafiador deixou de ser na vida real uma nação soberana. Prevê-se o aumento da influência iraniana após a retirada final das tropas americanas, mas é uma previsão a confirmar.
E nada garante que o Irã do futuro será o mesmo de agora. Um eventual Irã pós-revolucionário poderia inclusive desempenhar papel positivo na preservação do delicado equilíbrio entre xiitas, sunitas e curdos no vizinho.
Se é que o vizinho ainda existirá com um só.
O regime sírio luta pela sobrevivência, mas já comprou passagem no trem que o conduzirá à caçamba da História. Onde fará companhia aos colegas líbios.
O fundamentalismo religioso ameaça ganhar musculatura política nas hoje conturbadas sociedades árabes. Mas não há sinal de elas estarem em condição de constituir um polo antiocidental viável. Especialmente no terreno militar.
Para isso, seria necessário que outra superpotência se dispusesse a abrigar a miríade sob seu guarda-chuva estratégico. A Rússia talvez pudesse ser atraída para o projeto, mas aí apacem dois problemas.
O primeiro é que a Rússia não tem hoje massa crítica para tanto. Nem de longe lembra os tempos da superpotência soviética. O segundo é que o fundamentalismo islâmico, separatista, é um problema para a própria Rússia.
De todo modo, parece que nossas sociedades, embebidas em informação, buscam com volúpia conhecer a História enquanto ainda é produzida. Como desejo, é legítimo. Ainda que a frustração seja certa.
E o jornalismo ajuda a avolumar a onda, por ser atividade na qual é preciso apresentar todo dia uma grande novidade.
Talvez não haja novidades em quantidade suficiente para atender a esse mercado viciado nelas, então o que não seria tão novidade assim passa a ser.
Agora, por qualquer critério o atentado às torres gêmeas em Nova York foi sim uma novidade, acho que isso ninguém ousará negar.
Foi uma baita novidade operacional e semiótica.
Aviões carregados de combustível e passageiros, atirados contra prédios altíssimos, tudo com transmissão ao vivo pela televisão.
O que não implica ter sido uma novidade política merecedora de figurar como tal nos livros de História.
As guerras do Afeganistão e do Iraque vieram na sequência, mas pelo menos sobre Bagdá não se pode dizer que tenha sido em consequência.
A Guerra do Iraque guarda elo imediato mais anterior, com a Guerra do Golfo, travada pelos Estados Unidos para pôr fim à ocupação do Kuait pelas tropas de Sadam Hussein.
O que sonhou ser imperador do Oriente Médio mas acabou mal.
Bush filho completou o serviço que o pai dele não quis -ou não pôde- concluir.
Mas qual será, afinal, a dimensão histórica dos atentados de 11 de setembro, quando o futuro tiver virado presente e der uma olhada para trás? Aí vai depender.
Se o anunciado declínio militar dos Estados Unidos comprovar-se, o ataque ao World Trade Center será ensinado nas escolas como ato fundador de uma era.
Mas se, por exemplo, a instabilidade política no mundo árabe e muçulmano produzir no médio e longo prazos sociedades encruadas, atoladas num belicismo ruidoso mas impotente, e incapazes portanto de projetar o próprio poder, o 11 de Setembro virará um sub-Pearl Harbor.
Um prelúdio espetaculoso da derrota estrepitosa.
Osama Bin Laden mandou aquele punhado de jovens conduzirem os aviões contra o WTC, o Pentágono e possivelmente o Capitólio, ou a Casa Branca, para obrigar o Ocidente a retirar-se fisicamente da maior região exportadora de petróleo no planeta
Dez anos depois, em termos práticos, os interesses ocidentais no pedaço do mundo entre o Mediterrâneo e o Índico vão bem, obrigado. A exceção é o Irã, que luta uma batalha desesperada para não ver cair o último aliado em Damasco.
Um Irã cuja retórica agressiva é apenas a outra face do isolamento muito temido.
Passada a primeira década do 11 de setembro de 2001, o Iraque antes altivo e desafiador deixou de ser na vida real uma nação soberana. Prevê-se o aumento da influência iraniana após a retirada final das tropas americanas, mas é uma previsão a confirmar.
E nada garante que o Irã do futuro será o mesmo de agora. Um eventual Irã pós-revolucionário poderia inclusive desempenhar papel positivo na preservação do delicado equilíbrio entre xiitas, sunitas e curdos no vizinho.
Se é que o vizinho ainda existirá com um só.
O regime sírio luta pela sobrevivência, mas já comprou passagem no trem que o conduzirá à caçamba da História. Onde fará companhia aos colegas líbios.
O fundamentalismo religioso ameaça ganhar musculatura política nas hoje conturbadas sociedades árabes. Mas não há sinal de elas estarem em condição de constituir um polo antiocidental viável. Especialmente no terreno militar.
Para isso, seria necessário que outra superpotência se dispusesse a abrigar a miríade sob seu guarda-chuva estratégico. A Rússia talvez pudesse ser atraída para o projeto, mas aí apacem dois problemas.
O primeiro é que a Rússia não tem hoje massa crítica para tanto. Nem de longe lembra os tempos da superpotência soviética. O segundo é que o fundamentalismo islâmico, separatista, é um problema para a própria Rússia.
Há a China, mas não há sinal de que os chineses vão sair por aí desafiando militarmente os americanos.
por Alon Feurwerker
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