por Luis Nassif

 A defesa do sistema de "metas inflacionárias" – inclusive por alguns economistas maduros – é a prova inconteste de como o modelo vicia o raciocínio.

Há muitos anos, o sistema vinha sendo questionado à esquerda (pelos keynesianos) e à direita (pelos monetaristas de Chicago).

Como se recorda, o modelo se sustenta em cima de alguns pilares:

  1. Monta-se um sistema de acompanhamento das expectativas inflacionárias por agentes econômicos selecionados.
  2. Define-se a taxa de juros básica da economia de acordo com essas expectativas.

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Há um bom tempo monetaristas históricos, como Antônio Carlos Lemgruber e Rubens Novaes, alertavam para a extraordinária liquidez bancada pelo FED, com base nesse modelo.

A China inundava o mundo com produtos de baixo preço e câmbio desvalorizado. Esses produtos ajudavam a segurar a inflação nos Estados Unidos, levando o FED a reduzir os juros. Com isso, descuidou-se da política monetária.

Com excesso de dinheiro circulando a juros baixos, houve um salto nos preços dos ativos internacionais – que não entram na composição de preços das economias nacionais. Havia uma inflação sob controle para o consumidor norte-americano (e o brasileiro) e uma brutal inflação de preços de ativos (ações, commodities e moedas) resultando em crises sucessivas.

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No Brasil, foram inúmeras as distorções. Por exemplo, o BC decidia adotar uma política monetária restritiva. Aumentava a taxa Selic ou o compulsório. Mas deixava escancarada uma enorme janela por onde entravam captações externas irrigando o caixa das grandes companhias.

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Não foram as únicas distorções. O sistema de consulta ao mercado nasceu viciado, ouvindo um segmento especifico, a tal "confraria da Selic", com interesse direto na manutenção de taxas elevadas.

Em vez do modelo permitir ao BC influenciar as expectativas, ocorreu o contrário: tornou-se uma armadilha através da qual a confraria se apropriou da política monetária. Cada vez que havia espaço para uma redução maior da Selic – como na crise de 2008 – criava-se um alarido infernal, a pesquisa Focus apontava aumento de expectativas inflacionárias, a cobertura financeira dramatizava, falava-se em perda de credibilidade do BC, até se conseguir interromper o processo.

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No último alarido sobre a redução da Selic, o que menos pesou foi a análise dos fundamentos da economia brasileira e internacional – que, em última instância, deveriam ser o foco das discussões. A grita de comentaristas econômicos e economistas refletia muito mais uma briga por posições no mercado futuro do que o exercício da análise econômica prospectiva.

Mesmo alguns economistas seniores, com visão muito mais sistêmica de mercado do que os cabeças-de-planilha, empenharam-se em criticar a suposta desobediência do BC aos princípios das "metas inflacionárias", mostrando como a persistência em um modelo acaba comprometendo toda uma discussão mais relevante sobre politica monetária, poupança, investimento.

Ainda bem que está chegando ao fim mais um fetiche econômico, o sistema de "metas inflacionárias" a seco.



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