Já o PT lembra ter recebido o governo em 2003 com os preços saindo de controle, e diz que Luiz Inácio Lula da Silva deu jeito na coisa, ao aplicar um arrocho fiscal e monetário naquela largada.
O PSDB retruca lembrando que o instrumental usado pelo PT foi uma herança do governo tucano, especialmente a Lei de Responsabilidade Fiscal. O petismo observa que a construção institucional das ferramentas vem de mais longe.
O ministro da Fazenda Antonio Palocci era expert em introduzir esse último elemento na narrativa. Distribuindo os méritos da coisa.
E segue o debate, bastante autocentrado. Cada polo é tão cioso na própria defesa que esquece de olhar ao redor.
As quase duas décadas de poder tucano e petista realmente afastaram a superinflação, mas não entregaram a mercadoria prometida.
Deixaram o serviço pela metade. Não explicaram como fazer para crescer forte e consistentemente num ambiente de preços controlados.
Ou bem o país cresce e os preços sofrem além do desejado, ou o controle dos preços acaba matando a expansão da economia.
Lula pretendia ter superado essa barreira, com o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, tocado pela braço direito Dilma Rousseff. Conseguiu um certo plus (apesar da crise mundial), que logo se revelou insustentável.
Era a época das autoridades econômicas alardeando o rompimento da barreira do PIB potencial (o máximo que a economia pode crescer sem estourar a meta de inflação) medíocre. Depois de muito tempo, 3 ou 3,5% não eram mais nosso limite.
E 2010 foi vendido como prova, com seu vistoso PIB de 7,5%. Era ilusão. O número resultou da comparação com o retraimento absoluto de 2009. Passada a flacidez fiscal da eleição, a fantasia deixou de servir.
O governo FHC sacrificou o crescimento em favor do combate à inflação, e os governos do PT não conseguem decolar sem acordar a dita cuja. Um nó estrutural aparentemente indesfazível.
Agora Dilma está ameaçada pelo pior dos mundos. Crescimento medíocre com inflação incômoda. Para sorte do Brasil, a presidente parece resistir à solução tradicional.
Pois se é verdade que a inflação é um imposto antissocial, atinge mais quem menos consegue proteger o próprio dinheiro, o desemprego é outra chaga. O chamado Primeiro Mundo é prova.
Dilma escolheu o caminho certo ao evitar que o Banco Central decidisse novamente congelar a economia. Foi o BC quem tomou a decisão de baixar os juros, mas foi a presidente quem indicou o comando do BC. E o apoia. Está tudo bem entendido.
Será porém preciso avançar. E os sinais são insuficientes. O governo aposta no mercado interno para enfrentar a crise planetária, mas é pouco. A indústria patina há três anos, desmascarando postumamente a farsa da "marolinha".
Não basta o governo dizer que não sacrificará o crescimento em nome do combate à inflação, se deixa o país escorregar para a estagflação.
É preciso que diga como, efetivamente, vai manter a máquina funcionando em velocidade desejada sem estourar os preços.
O PT venceu três eleições presidenciais porque, entre outras razões, a maioria do país recusou a volta a um modelo de conformismo com o baixo crescimento, um fardo que os candidatos tucanos precisaram carregar como triste legado do período FHC.
Uma herança maldita.
Mas que vai se diluindo no tempo. O problema agora é outro. O PT já está no poder faz tempo suficiente, deve dizer a que veio.
Dilma largou bem mas a corrida é longa. A presidente foi bem na primeira curva, quando o BC ignorou os sacerdotes da estagnação e baixou os juros.
Mas se Dilma bobear ninguém lá na frente lembrará que a presidente começou a corrida na pole-position.
por Alon Feurwerker
Nenhum comentário:
Postar um comentário