À espera
O governo espera que o final do ano traga boas notícias, salvando o período gregoriano. Mas o acumulado dos 12 meses terminados em dezembro terá carregado a inércia do ótimo 2010, fazendo concluir que 2011 foi um ano perdido.
Eis por que um número razoável no total de 2011 não terá como resolver o problema prático. Na medição instantânea a economia brasileira está parando. O tranco é menos agudo que em 2008/09, mas a gravidade é maior.
Se três anos atrás a crise era de crédito, enfrentável portanto com medidas monetárias, a de agora parece bem mais complicada.
As taxas mundiais de juros estão no chão, sem que isso faça destravar a engrenagem. A cada momento em que a locomotiva ensaia ganhar velocidade aparece um novo problema e a aceleração se frustra.
Agora é a Europa, com sua dívida descontrolada e seus bancos pressionados. Qual será a próxima supresa, a próxima casinha a se abrir e exibir uma imagem assustadora aos passageiros do trem-fantasma?
No nosso caso, o governo não parece ter uma estratégia própria. Reage conforme as novidades. Um protecionismozinho aqui, um apelozinho ali à regulação dos mercados, e mais nada. Ou muito pouco.
Como na esfera dos escândalos da política, vai reagindo aos fatos, tentando desvencilhar-se deles à medida que aparecem.
Não que as reações sejam ruins. O Banco Central merece parabéns por ter lá atrás firmado a convicção de que precisava baixar os juros. E baixou, contra a corrente de quem pedia prudência adicional e arriscava repetir o erro de três anos atrás.
Quando o Brasil perdeu a maior e melhor oportunidade de cortar radicalmente os juros reais, pois a demanda caíra a zero.
Mas só política monetária não resolve. É pouco. O país precisaria de um novo choque anticíclico, facilitado pela boa situação fiscal.
Precisaria de uma política para crescer aceleradamente o investimento, com a participação decisiva do Estado, já que o capital privado anda algo medroso.
E na teoria temos aqui uma bela vantagem sobre o mundo desenvolvido. No Brasil quase tudo ainda está por fazer. Mas essa qualidade é também nosso grave defeito: o Estado brasileiro estruturou-se para não deixar que as coisas aconteçam.
A crítica não é nova.
Basta comparar os vencimentos do engenheiro encarregado de tornar a estrada viável e os do promotor cuja missão é impedir que dinheiro público seja dissipado na obra. Não é que o segundo ganhe a mais. É o primeiro que ganha a menos.
Quem gostava de fazer essa comparação, ou comparações assim, era o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ele segurou a caneta por oito anos e não mudou radicalmente esse quadro. Falou mas não fez.
O Brasil precisa faz tempo de governos que coloquem o Estado para andar, retirando-o da imobilidade paquidérmica e gulosa.
Se há maneiras de acender a fagulha numa economia de consumidores endividados e atemorizados, uma bem conhecida é melhorar o efeito multiplicador de cada real investido pelo setor público.
Há notícias a respeito? Quem souber de alguma, avise.
Escapando
As dificuldades econômicas não vêm afetando, por enquanto, a popularidade presidencial, dizem as pesquisas privadas encomendadas para medir como vai Dilma Rousseff.
Talvez porque ainda não tenha dado tempo. Talvez porque o brasileiro esteja convencido de que a crise é global e o governo faz o melhor que pode. E na comparação com outros países o Brasil não vai mal.
Ou uma mistura dessas coisas todas.
Para que um governante seja politicamente mais afetado por dificuldades da vida material dos cidadãos é preciso algo além de uma situação difícil. É necessário que pelo menos parte do povo se convença de que o governo está deixando de fazer algo que deveria.
Não parece ser o caso.
É um espaço político desocupado, à espera de alguém que se ofereça para o serviço de dizer o que Dilma deveria fazer diferente.
O governo saboreia uma tranquilidade enganosa. Especialmente porque a combinação das frustrações econômicas e políticas ("éticas") tem perfil explosivo.
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