por Alon Feurwerker

À espera

A prévia do PIB divulgada ontem pelo Banco Central registrou recuo de 0,32% no trimestre de julho a setembro. O número final dirá quanto, mas sabe-se desde já que a economia brasileira andou para trás. 

O governo espera que o final do ano traga boas notícias, salvando o período gregoriano. Mas o acumulado dos 12 meses terminados em dezembro terá carregado a inércia do ótimo 2010, fazendo concluir que 2011 foi um ano perdido.

Eis por que um número razoável no total de 2011 não terá como resolver o problema prático. Na medição instantânea a economia brasileira está parando. O tranco é menos agudo que em 2008/09, mas a gravidade é maior. 

Se três anos atrás a crise era de crédito, enfrentável portanto com medidas monetárias, a de agora parece bem mais complicada.

As taxas mundiais de juros estão no chão, sem que isso faça destravar a engrenagem. A cada momento em que a locomotiva ensaia ganhar velocidade aparece um novo problema e a aceleração se frustra. 

Agora é a Europa, com sua dívida descontrolada e seus bancos pressionados. Qual será a próxima supresa, a próxima casinha a se abrir e exibir uma imagem assustadora aos passageiros do trem-fantasma?

No nosso caso, o governo não parece ter uma estratégia própria. Reage conforme as novidades. Um protecionismozinho aqui, um apelozinho ali à regulação dos mercados, e mais nada. Ou muito pouco. 

Como na esfera dos escândalos da política, vai reagindo aos fatos, tentando desvencilhar-se deles à medida que aparecem.

Não que as reações sejam ruins. O Banco Central merece parabéns por ter lá atrás firmado a convicção de que precisava baixar os juros. E baixou, contra a corrente de quem pedia prudência adicional e arriscava repetir o erro de três anos atrás. 

Quando o Brasil perdeu a maior e melhor oportunidade de cortar radicalmente os juros reais, pois a demanda caíra a zero.

Mas só política monetária não resolve. É pouco. O país precisaria de um novo choque anticíclico, facilitado pela boa situação fiscal. 

Precisaria de uma política para crescer aceleradamente o investimento, com a participação decisiva do Estado, já que o capital privado anda algo medroso.

E na teoria temos aqui uma bela vantagem sobre o mundo desenvolvido. No Brasil quase tudo ainda está por fazer. Mas essa qualidade é também nosso grave defeito: o Estado brasileiro estruturou-se para não deixar que as coisas aconteçam. 

A crítica não é nova.

Basta comparar os vencimentos do engenheiro encarregado de tornar a estrada viável e os do promotor cuja missão é impedir que dinheiro público seja dissipado na obra. Não é que o segundo ganhe a mais. É o primeiro que ganha a menos.

Quem gostava de fazer essa comparação, ou comparações assim, era o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ele segurou a caneta por oito anos e não mudou radicalmente esse quadro. Falou mas não fez.

O Brasil precisa faz tempo de governos que coloquem o Estado para andar, retirando-o da imobilidade paquidérmica e gulosa. 

Se há maneiras de acender a fagulha numa economia de consumidores endividados e atemorizados, uma bem conhecida é melhorar o efeito multiplicador de cada real investido pelo setor público.

Há notícias a respeito? Quem souber de alguma, avise.

Escapando

As dificuldades econômicas não vêm afetando, por enquanto, a popularidade presidencial, dizem as pesquisas privadas encomendadas para medir como vai Dilma Rousseff.

Talvez porque ainda não tenha dado tempo. Talvez porque o brasileiro esteja convencido de que a crise é global e o governo faz o melhor que pode. E na comparação com outros países o Brasil não vai mal.

Ou uma mistura dessas coisas todas.

Para que um governante seja politicamente mais afetado por dificuldades da vida material dos cidadãos é preciso algo além de uma situação difícil. É necessário que pelo menos parte do povo se convença de que o governo está deixando de fazer algo que deveria.

Não parece ser o caso.

É um espaço político desocupado, à espera de alguém que se ofereça para o serviço de dizer o que Dilma deveria fazer diferente.

O governo saboreia uma tranquilidade enganosa. Especialmente porque a combinação das frustrações econômicas e políticas ("éticas") tem perfil explosivo. 


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