Quando tudo se presta a tudo, principalmente a tudo que não presta



"É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma"
Giuseppe Tomasi di Lampedusa,escritor italiano (1896-1957)
                                                           

 
Tudo isso que está acontecendo na corte é muito deprimente e muito desanimador. Espelha a agonia de instituições em pandarecos, entregues a coveiros ébrios, ávidos de todo e qualquer ganho, indiferentes a todo e qualquer valor ético e moral.

Tudo o que se relatou é suspeito. Esses personagens já caíram no descrédito até dos mais crédulos. Agem como se fossemos uma fieira de panacas. E galgam os píncaros de uma mídia trapalhona, flagrada com a mão na massa. Nisso tudo fala quem quer e como ninguém quer, ninguém fala na escala e ninguém se abala.

Tudo é muito feito, muito patético, muito sem nexo. Encomenda torpe de quem não sabe onde meter a cabeça, onde esconder a alma, nem escapa à farpa.

Tudo se presta a tudo. E principalmente a tudo que não presta. Briga de cachorros grandes sem o pudor diante dos olhares de curiosa perplexidade. Cachorros que a doram uma cachorrada.

Tudo o que se disser disso tudo é pouco. O mau gosto inspira as ladainhas da epifania. A ficha demorou a cair porque é sempre levada a leilão. É do jogo mórbido dos sujos e dos mal lavados.

Tudo o que se jogou no ventilador no atraso programado de nada se aproveita. Por que só depois, muito depois, e logo através de quem? E quem mandou dar trela a quem nunca soube o que é caráter e, envolvido nas trampas, não mede palavras, nem resguarda escrúpulos?

Tudo o que se ouviu dessas pecinhas só surpreende a quem tem memória curta. Um discreto olhar em dias pretéritos identifica tudo o que há por trás de tudo. É tudo ou tudo. Nada de nada.

Tudo serve a tudo, conforme o ângulo e a ótica. Serve porque tudo isso aí é um lixão de podres entulhos. Os entulhos dos podres poderes. Desses dias ínvios, obscenos e obscuros, sob o manto de uma nuvem de voragens insaciáveis.

Tudo, como sempre, vai dar em nada. Nenhum único cristão pode atirar a primeira pedra. Porque está tudo comprometido até a medula. E o tudo que se vê é quase nada em relação a tudo o que há por baixo dos panos.

Tudo é enganoso e serve ao que há de pior em tudo por tudo. Mas não consegue esconder o que há por trás de tudo isso. Nisso tudo não se restringe a ficha suja. Antes, pelo contrário, tudo é um grande lamaçal, produzindo tudo de ruim e tentando escamotear toda a nudez jamais castigada.

Tudo o que podemos esperar é nada ou quase nada. Se alguma coisa brotar disso tudo será o parto da montanha. Muito barulho por nada. E nós, mortais da distinta platéia, vamos nos deparar com um rato, mascote emblemático destes dias em que tudo pode acontecer.

Tudo o que disse pode não querer dizer nada. Mas pode revelar tudo o que o cotidiano macabro esconde em suas entranhas. E pode servir de lente para levar seus olhos aonde eles não chegam à primeira vista.

Tudo aqui pode ser a crônica cifrada desses dias indignos que não merecem bons tratos. E que, portanto, exigem um mergulho alucinado com tudo o mais nas profundezas de tudo o que o cérebro embala. 

"Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos".
Millôr Fernandes


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