É possível fazer bons prognósticos a partir de pesquisas de intenção de voto realizadas a três meses da eleição?
Como em quase tudo na vida, a resposta é ambígua: depende.
Depende do tipo de eleição e da situação concreta de cada uma.
Em eleições gerais, nossa experiência de muitos anos mostra que sim. Bem lidas e corretamente interpretadas, essas pesquisas previram todas as eleições presidenciais desde a redemocratização. Em nenhuma, os verdadeiros favoritos do início de julho mudaram.
Em nível menor, as eleições de governador também são assim. Nelas, podem ocorrer "fenômenos de última hora", mas não são comuns. A regra é a vitória de quem lidera desde essa época.
Na última eleição, por exemplo, se pensarmos nos maiores estados, a única "surpresa" aconteceu em Minas Gerais. Alguns poderiam até imaginar o desempenho que Antonio Anastasia (PSDB) acabou tendo, mas, em julho, nenhuma pesquisa o projetava.
Já em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Pernambuco e Ceará, terminaram vencendo os que despontavam então.
Nas eleições municipais - especialmente nas capitais e onde há televisão -, no entanto, costuma prevalecer quase que o inverso. Em inúmeros casos, o vitorioso de outubro era um azarão (ou um derrotado) em julho.
Em 2008, isso aconteceu em quase todas as principais metrópoles.
Se os levantamentos do início do período de campanha tivessem sido confirmados, São Paulo seria governada por Marta Suplicy (PT), o Rio de Janeiro por Marcelo Crivella (PRB), Belo Horizonte por Jô Moraes (PCdoB), o Recife por Mendonça Filho (DEM) e Salvador por ACM Neto (DEM). Nada disso, como se sabe, aconteceu.
Pelo contrário. Em algumas, ganhou quem estava em terceiro lugar em julho, como Eduardo Paes (PMDB), no Rio (que era superado por Crivella e Jandira Feghali, do PCdoB), Marcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte (que ficava atrás de Jô e de Leonardo Quintão, do PMDB), e João da Costa (PT), no Recife (que perdia para Mendonça e empatava com Cadoca, do PSC).
Mesmo alguns dos prefeitos que buscavam a reeleição andavam mal naquele momento. Em São Paulo e Salvador, Gilberto Kassab (PSD) e João Henrique (PP) amargavam incômodos terceiros lugares. Em Fortaleza, Luizianne Lins (PT) estava embolada com Moroni Torgan (DEM). Os três contrariaram os resultados de julho e venceram - ela no primeiro turno.
Só em Porto Alegre e Curitiba essas pesquisas já identificavam os vitoriosos. José Fogaça (PMDB) e Beto Richa (PSDB) - ambos disputando a reeleição - foram eleitos, com números até parecidos aos que obtinham.
O que se deduz é óbvio: é preciso cautela com os prognósticos prematuros a respeito das eleições para prefeito. Nelas, é comum que as pesquisas de julho não sejam capazes de antecipar o resultado final - ou até de vislumbrá-lo.
As razões para isso são conhecidas e decorrem das condições de mídia muito peculiares que nelas prevalecem. Em especial, da ocupação maciça da grade de programação das emissoras de televisão pelos comerciais de campanha dos candidatos. Desde que bem feitos e com conteúdo, eles podem fazer com que velhos prognósticos caduquem da noite para o dia.
Quem vai ganhar nas capitais? Os favoritos de hoje resistirão? Não haverá qualquer "surpresa" em 2012 - como tivemos em todas as anteriores?
Ninguém sabe e correm sério risco de errar os que profetizam os resultados de outubro baseados nas pesquisas de agora.
Como os responsáveis pela manchete de um jornal carioca, que - com mal disfarçada alegria - decretava que "o quadro para o PT é sombrio", pois apenas um de seus candidatos está hoje na frente, consideradas as 10 maiores capitais.
Tanto o PT, quanto o PSDB - ou qualquer outro partido - podem sair da eleição maiores ou menores. O que é impossível é afirmá-lo em julho.
No máximo, pode-se desejá-lo.
Marcos Coimbra
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