É impressionante a dificuldade que alguns - incluindo a maioria dos analistas e comentaristas - têm de entender como pensa o eleitor comum na hora de decidir seu voto nas eleições municipais.
E olha que o mestre Ziraldo já havia fornecido a pista há muitos anos.
Em um cartum antigo, ele mostrava dois caipiras de cócoras, conversando à beira de um caminho. Um dizia para o outro: “É muito simples, compadre: federá, nóis vota contra; municipá, nóis vota a favor!”
O texto aludia a um comportamento eleitoral típico daqueles tempos, quando tínhamos o bipartidarismo e a escolha dos prefeitos era pautada pelo medo dos prejuízos que a cidade sofreria se votasse em um candidato da oposição.
Os eleitores pareciam se contradizer: para prefeito, votavam na Arena, isto é, no partido governista criado pelos militares; para senador - a única eleição majoritária permitida -, no MDB, o partido oposicionista. Ou seja: um ano, votavam governo; no outro, oposição.
Mas não por confusão e sim por esperteza.
Sem que o fenômeno tenha deixado de existir - como se percebe ao comparar os resultados de eleições estaduais e presidenciais com as municipais em diversas partes do país - as coisas mudaram.
A tese de Ziraldo continua, porém, a valer. Os eleitores pensam diferente quando decidem coisas diferentes.
E as milhares de escolhas que vão fazer este ano, ao votar para prefeito nos 5564 municípios brasileiros, pouco têm a ver com as que fizeram em 2010 e as que farão em 2014.
A ânsia de encontrar “significados gerais” nas eleições municipais é infrutífera. Elas, simplesmente, não os possuem. Porque para seus atores centrais, os eleitores, são estritamente locais. Para eles, cada caso é um caso.
Assim como do ponto de vista dos políticos diretamente envolvidos. Também para eles, o que acontece aqui tem pouco efeito no que ocorre ali.
Exemplo eloquente dessa inútil mania de buscar “sentidos gerais” é a recente discussão sobre “o conflito entre PT e PSB”, que ocupou largo espaço nos debates políticos durante a semana que passou.
Por fatores unicamente locais, os dois partidos resolveram marchar com candidaturas distintas - nestas eleições - em três capitais onde estavam juntos. Isso aconteceu em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte.
Na primeira, a separação se deu em função da decisão do diretório municipal petista. O governador Cid Gomes, principal liderança do PSB no Ceará, não concordou com o nome escolhido e decidiu lançar outro de seu partido, entendendo que o candidato indicado pelo PT tinha pequena viabilidade eleitoral.
No Recife, as dissensões dentro do PT foram consideradas tão graves que o governador Eduardo Campos (PSB) preferiu evitá-las e optou pela candidatura de um secretário de seu governo. O candidato do PT lidera - com folga - as pesquisas.
Em Belo Horizonte, os dois partidos desfizeram uma longa aliança e o PT terminou lançando candidatura própria - o contrário do que buscavam suas lideranças estaduais.
Só com muita imaginação - e pouca informação - os três episódios podem ser interpretados como se indicassem alguma coisa a respeito das relações mais gerais que PSB e PT mantêm. Como se sugerissem que estão em rota de colisão.
Apenas para lembrar: separados em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte, mas juntos em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Quem se apressa querendo se aproveitar do “conflito” pode se decepcionar. E fazer triste papel.
Como esse que os “serristas” ensaiam, acenando com seu “apoio” à hipotética candidatura de Eduardo Campos contra Dilma em 2014.
Primeiro, só em suas cabeças Campos é candidato (nas pesquisas, ele tem cerca de 2% e Dilma 60%). Segundo, quem falou que o “serrismo” tem esse cacife?
Marcos Coimbra
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