Para o bem ou para o mal, o debate eleitoral de 2014 já começou há alguns meses atrás e as manifestações de rua do mês de junho atiçaram as disputas políticas. E o Governo Federal acusou o golpe, a ponto de tomar atitudes rápidas e atabalhoadas, para tentar capturar os anseios populares e se preservar da inevitável posição de vidraça. O movimento que pegou a todos desprevenidos, inclusive os próprios manifestantes, gerou muita energia sem direção clara, lembrando as antigas lâmpadas com filamento agora em desuso: produzem mais calor que luz.
No noticiário sobre a economia brasileira feito na grande imprensa, também o debate está posto e, não raras vezes, mal posto. Não se sabe se é por ignorância ou má fé, mas as interpretações dos fatos e do movimento das variáveis vêm exageradas e desconectadas da realidade. É claramente o caso em relação à inflação, mas também o é em relação ao desempenho da economia brasileira, às contas públicas e até mesmo no que se refere a uma ideia vaga de que o Governo “perdeu o controle da situação”, como se estivesse tão surpreso com a conjuntura econômica como está com as demandas das ruas.
No caso da inflação, que foi mais alta no primeiro semestre de 2013 por conta de fenômenos bem específicos que nosso limitado sistema de metas não dá conta (por exemplo, os preços dos alimentos), boa parte da imprensa se apressou, irresponsavelmente, a enunciar expressões como “a inflação voltou” ou “os preços sobem sem controle”. Para quem não tem conhecimento específico de Economia, porém tem a memória dos momentos dramáticos anteriores ao Plano Real, são expressões que assustam e formam expectativas tão ruins quanto falsas. Ora, mesmo os analistas mais pessimistas não projetaram em momento nenhum uma inflação descontrolada em 2013 e 2014. Pelo contrário, têm projetado taxas em torno de 5,8% para o final destes dois anos, um nível elevado, sem dúvida, acima da meta de 4,5% que temos ultrapassado nos últimos anos, mas muito longe do que se viveu há vinte ou trinta anos atrás, lá sim com completo descontrole da situação. Basta ver as projeções médias dos analistas privados reunidas nos relatórios do Banco Central, para se ter certeza que elas não sustentam algumas manchetes. Nenhum país deve se satisfazer com inflação perto de 6% ao ano, mas as condições atuais estão longe da noção de descontrole.
Quanto ao desempenho da economia, a situação não é muito diferente. Transmite-se a ideia de que a economia está parada e que as forças que a impulsionaram recentemente estão esgotadas, o que, inevitavelmente, logo resultará numa situação de crise. Vale aqui o mesmo tipo de observação que se fez para a inflação. É certo que um crescimento de 2% a 3% ao ano em 2013 e em 2014 não agrada a ninguém nem representa algo que orgulhe uma nação com mais potencial. Daí a interpretar o momento atual como o de entrada num ciclo de baixa, gerador de desemprego e dificuldades, vai uma grande diferença. Há um ciclo importante de investimentos em infraestrutura e na exploração de petróleo que está apenas começando e vai render estímulos ao crescimento da economia. Ele é suficiente para atrair capital em busca de valorização, gerando emprego e renda, o que não é qualquer lugar do mundo que oferece atualmente. Parece estranho que o capital estrangeiro produtivo que vem ao Brasil em grande volume e espalhado por vários setores vislumbre oportunidades de negócios que nós não enxergamos. Eles não estão projetando estagnação da economia brasileira. E nós estaríamos? Quem está errado?
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