Anna, a voz da Rússia: vida e obra de Anna Akhmátova

RÉQUIEM 1935 - 1940
Não, não foi sob um céu estrangeiro, nem ao abrigo de asas estrangeiras - eu estava bem no meio de meu povo, lá onde o meu povo em desventura estava.
Não estou com aqueles que abandonaram a terra às dilacerações do inimigo.
Às suas grosseiras lisonjas não cedo.
A eles não darei minhas canções.
Para mim, o exilado é digno de dó, como quem está preso ou está doente.
Sombria é a tua estrada, peregrino, vermes infestam o teu pão estrangeiro.
Mas aqui, em meio à fumaça do incêndio, que consome o que resta da nossa juventude,
sabemos que nem um pouquinho nos afastamos de nós mesmos.
E sabemos que, na hora do acerto final, cada um de nossos momentos estará justificado...
Não há no mundo gente mais sem lágrimas, mais simples e orgulhosa do que nós.
Assim como o futuro amadurece no passado, o passado apodrece no futuro - terrível festival de folhas mortas.
O presente e o passado estão ambos talvez presentes no futuro e o futuro contido no passado.
O que pode ter sido e o que foi apontam para um só fim, que está sempre presente.

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