Manifestações: O sentimento do “ninguém me representa” se disseminou e não preserva nenhum quadro ou grupo político

O resultado mais relevante das últimas pesquisas de opinião é a forte piora da imagem do sistema político. Despencou a avaliação das instituições e dos atores políticos.

Quem comemorou aquelas feitas logo após o início dos protestos e manifestações por acreditar que seus adversários é que pagariam, se enganou. Todos perderam.

Ainda em junho, os mais felizes eram os antilulopetistas. Depois de sofrer durante anos com pesquisas favoráveis ao governo, acharam ter chegado a hora da desforra. Quando começaram a ser divulgados números que revelavam a queda na popularidade de Dilma, soltaram foguetes.


E quando ficou claro que, em consequência, ela perdia intenções de voto, pareceu que suas preces haviam sido atendidas. Foi até engraçado ouvir o que disseram os porta-vozes da oposição e ler o que escreveram os colunistas mais afoitos. Estavam esfuziantes.

Hoje o tom é menos comemorativo. Fora os comentaristas da ultradireita, até os patrões da indústria da comunicação mostram preocupação. As lideranças oposicionistas sérias não dão um pio.

Seria um grave equívoco dizer “Benfeito!”, como se essa queda generalizada fosse o justo preço que “os políticos” estariam pagando por seus erros. Como se o Executivo, Legislativo e Judiciário merecessem ser mal avaliados. Como se a presidenta da República, os governadores, os prefeitos, os senadores, os deputados, os vereadores e os magistrados fossem todos (ou praticamente todos, o que dá no mesmo) incapazes, corruptos e mal-intencionados.

Erro igual seria acreditar que alguns são poupados. O sentimento do “Ninguém me representa!” não preserva quem quer que seja. Aqueles que não caíram hoje cairão amanhã, a menos que essa desconfiança difusa e despropositada seja corrigida.

O paradoxo de situações como a que vivemos neste momento é que, para se defender, cada personagem do sistema político é levado a acusar os outros. Conhecedor de sua pequena credibilidade, tenta derrubar os demais. E acaba por contribuir para o descrédito geral.

No futuro, todos morrem.

Em recente pesquisa do instituto Vox Populi, perguntamos contra quem foram os protestos de junho. Para 72%, contra o governo Dilma Rousseff. Para 69%, contra o governador do estado do entrevistado (a pesquisa foi feita em todos, à exceção de Roraima). Para 58%, contra o prefeito de sua cidade (as entrevistas foram aplicadas em 179 municípios, a maioria de cidades médias e pequenas, onde não houve manifestações). Para 77%, contra os senadores e deputados. E 65% acreditam que o PT foi o alvo. Um pouco menos, 52%, afirmaram ser contra o PSDB.

Se incluíssemos aqueles que acham terem sido os protestos ao menos em parte contra esses alvos, chegamos perto de quase consensos.

Ao se analisar o conjunto de pesquisas disponíveis, vê-se que esse clima de opinião afeta as percepções do presente e atinge as expectativas. Tudo ficou pior. Os cidadãos estão menos satisfeitos com o Brasil, menos confiantes de que estejamos na direção correta. Passaram a ver com mais pessimismo o futuro. Aumentou a proporção daqueles que não acreditam que sua vida vai melhorar.

Os candidatos “políticos” perderam. Só os que são (ou posam de) apolíticos cresceram do início de junho para cá.

A avaliação positiva de Dilma, Aécio Neves e Eduardo Campos como candidatos diminuiu. Quem mais sofreu foi, naturalmente, a presidenta, pois era quem mais tinha por onde cair e é a figura emblemática do sistema político. Em sua companhia minguaram Aécio e Campos.

Enquanto isso, Marina Silva e Joaquim Barbosa subiram. Ou seja, estão bem apenas as candidaturas da incerteza.

A isso chegamos depois de um ano de incessante bombardeio contra o governo e o sistema político. É difícil lembrar um período comparável, seja em termos da intensidade, seja da extensão do desgaste a que foram submetidos. A articulação entre as lideranças da oposição civil, dos partidos oposicionistas e da indústria de comunicação, com suas redes de tevê e rádio, seus veículos na internet, seus jornais e revistas, nunca havia sido tão ativa.

Seu alvo era o governo e a intenção de impedir a reeleição de Dilma. Julgavam-se capazes de precisão cirúrgica, de atingir apenas o inimigo. As pesquisas mostram que erraram. Terminaram por atingir muito mais que o lulopetismo.

No fim das contas, perdemos todos.

Marcos Coimbra