Sou antiraças

Não Sou apenas antiracistas, sou antiraças Não reconheço a raça Vermelha Amarela Branca Preta Azul ou qualquer outra cor com que queiram def...

Vivemos em um período divisor de águas da história da humanidade

As mudanças induzidas pelo homem nos sistemas físicos da Terra - entre eles o clima, o ciclo da água e a biodiversidade - ameaçam crescentemente deteriorar de forma irreversível os ecossistemas e as condições de vida no planeta. O abismo social que aparta ricos e pobres vem se aprofundando no mundo e mais de um bilhão de pessoas ainda vivem abaixo da linha da pobreza.1 A expansão em ritmo exponencial das cidades vem agravando criticamente a qualidade de vida de populações urbanas. "O atual modelo de desenvolvimento global é insustentável".2 É evidente que um progresso duradouro só pode provir de novos paradigmas de desenvolvimento que assegurem, ao mesmo tempo, crescimento econômico, justiça social e sustentabilidade ambiental. O Brasil, enquanto superpotência emergente abundante em população e em recursos naturais, pacífica e aberta à convivência com as diferentes raças e culturas, pode liderar o caminho para um futuro melhor para a humanidade se obtiver êxito em congregar os esforços das mais diversas esferas da sociedade.
Um projeto ambicioso de desenvolvimento sustentável só pode ser levado a cabo se formos capazes de medir com precisão o estado da economia, do bem-estar social e do meio-ambiente, de compreender a natureza e a interrelação dos seus fatores subjacentes, de avaliar o impacto de políticas sobre ele e de inferir a sua sustentabilidade. Essa é a mensagem fundamental do relatório da Comissão sobre a Medida do Desempenho Econômico e do Progresso Social estabelecida pelo governo da França em 2008,3 que é voz importante no debate sobre como reformar os institutos de Estatística e empregar o conhecimento científico para melhor suportar a formulação de políticas. O relatório questiona a utilização do PIB como principal indicador do progresso de economias uma vez que ele não mensura a desigualdade social, a degradação ambiental ou a sustentabilidade e que a sua evolução não implica necessariamente, como demonstra o célebre paradoxo de Easterlin, o incremento do "nível de felicidade" médio das populações. O relatório do Painel de Alto Nível sobre Sustentabilidade Global da ONU publicado neste ano faz coro a tais conclusões: "para estimar os quatro pilares do desenvolvimento sustentável (extinção da pobreza extrema, sustentabilidade ambiental, inclusão social e boa governança), precisamos de um novo conjunto de indicadores que se estendam muito além do tradicional PIB". O Brasil precisa investir vigorosamente em Estatística e em Ciência como alicerces da administração pública se almeja realizar plenamente as suas potencialidades.

O mesmo relatório da ONU afirma que "quatro etapas para aperfeiçoar a concepção de políticas são medir a felicidade, elucidá-la, colocá-la no centro das atenções e traduzir a pesquisa em bem-estar na elaboração e prestação de serviços": o aumento da felicidade das pessoas deve ser uma meta nacional da maior importância. O Relatório Mundial da Felicidade,4 com base em mais de 40 anos de acúmulo de conhecimento da linha de pesquisa multidisciplinar denominada Economia da Felicidade, advoga que a partir da coleta de dados sobre a satisfação com a vida em dimensões objetivas influentes no bem-estar - entre elas as condições de vida materiais, a saúde, a educação, as atividades pessoais, a participação política, as relações sociais, o meio-ambiente e a segurança (econômica ou física) - é possível canalizar investimentos para melhorar a vida de pessoas ou de grupos de indivíduos personalizadamente. Outra conclusão desse relatório é que a situação financeira deixa de ser o principal determinante da felicidade uma vez saciadas as necessidades básicas de sobrevivência. O Brasil já avançou bastante em matéria de bem-estar social, mas ainda há muito a ser feito. A evolução de nosso país em termos econômicos, sociais e ambientais vai depender em grande medida de nossa capacidade de criar um ambiente favorável à inovação nos vários setores da sociedade, aliciando governos, indústrias, empresas, universidades e centros de pesquisa, organizações, comunidades e cidadãos para trabalhar cooperativamente. Com efeito, a inovação é o processo através do qual são encontradas soluções para problemas abrangendo desde a luta contra doenças fatais até as mudanças climáticas, é a fonte essencial de melhoria de nossa qualidade de vida e da de nossos descendentes. As complicações associadas à urbanização vertiginosa e desgovernada, por exemplo, podem ser remediadas, como propõe o framework de desenvolvimento urbano que configura o conceito de "cidade inteligente", pela criação, exploração e difusão de tecnologias de informação e comunicação.5
O desafio da sustentabilidade é talvez o mais difícil e crucial com o qual o homem já se deparou. Para enfrentá-lo em toda sua complexidade, são necessárias novas ideias, novas tecnologias, novos modos de colaboração, novas maneiras de ver o mundo. Os governos e as pessoas precisam mudar profundamente, e a transformação de uns é indissociável da dos outros. Por um lado, os governos devem buscar fomentar o bem-estar dos cidadãos e a igualdade de oportunidades; garantir uma boa governança, habilitando os cidadãos a participar dos processos de tomada de decisão em escalas local, regional, nacional e internacional; e visar o longo prazo, financiando e estimulando o desenvolvimento de infraestruturas, tecnologias e inovações sustentáveis e educando cidadãos mais engajados na vida em sociedade e mais conscientes do impacto de suas escolhas na coletividade e na posteridade. Por outro lado, os cidadãos devem se indignar generalizadamente com as injustiças e as deficiências da ordem vigente, se mobilizar para extingui-las e tomar responsabilidade pelas consequências de suas ações sobre a geração presente e as futuras. Bilateralmente, os governos e as pessoas devem se plasmar em sociedades mais abastadas, felizes, unidas, cooperativas, solidárias e preparadas para o porvir.
Eu acredito que a humanidade pode escolher as linhas gerais de seu destino e estou esperançoso de que vamos agir com sabedoria, adotando novos estilos de vida e novas formas de interação com nossos semelhantes e com nosso habitat que promovam o bem-estar geral e preservem o meio-ambiente. Quanto ao Brasil, "a tarefa das novas gerações de brasileiros é tomar este país em suas mãos para fazer dele o que há de ser, uma das nações mais progressistas, justas e prósperas da Terra".6

Notas bibliográficas
1.      THE UNITED NATIONS SECRETARY-GENERAL’S HIGH-LEVEL PANEL ON GLOBAL SUSTAINABILITY.Resilient People, Resilient Planet: A Future Worth Choosing. Nova Iorque: 2012.
2.      Ibid.
3.      COMISSION SUR LA MESURE DES PERFORMANCES ÉCONOMIQUES ET DU PROGRÈS SOCIAL.Rapport de la Comission sur la mesure des performances économiques et du progrès social. Paris: 2009.
4.      THE EARTH INSTITUTE OF COLUMBIA UNIVERSITY. World Happiness Report. Nova Iorque: 2012.
5.      INSEAD. Making Cities Smart and Sustainable. In: The Global Innovation Index 2011: Accelerating Growth and Development. Fontainebleau: 2011.

6.      RIBEIRO, D. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

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