A Folha publicou ontem entrevista com o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Entre outras coisas, ele disse que nunca antes nesse país o BNDES teve o papel que tem hoje. Pastore afirma que não era preciso colocar o banco para financiar a infraestrutura no Brasil.
Ela acrescenta que os financiamentos que o BNDES faz se tornam aumento de dívida pública. E que o banco hoje é usado com objetivo político.
Mas o BNDES já teve, sim, o papel que tem hoje. Foi nas privatizações de Fernando Henrique Cardoso. Mas, porém, todavia, era legítimo e dentro das regras do mercado. Financiou o desmonte do Estado brasileiro que a ditadura montou, com o auxílio de Pastore, que, como podemos ver na sua biografia, serviu bem à ditadura. Primeiro no governo de São Paulo, como secretário da Fazenda (1979-1983), e depois como presidente do Banco Central (1983-1985).
Mas, como a vida continua, na mesma edição da Folha de ontem , e no mesmo caderno de economia, podemos ler de forma didática (com gráfico e tudo) como o Estado salvou os bancos e empresas nos Estados Unidos na crise 2008-09, com as consequências que vivemos agora com o provável fim dos estímulos monetários do FED (Federal Reserve).
No entanto, Pastore diz que o real se desvaloriza por causa do déficit externo. Aliás, se desvalorizava, contrariando de imediato sua tese. Tese que serve a quem?
E mais: seu argumento sobre as concessões – o de que o BNDES não precisa financiar porque bastava adotar uma taxa de retorno mais alta – beira o cinismo, já que foi o mercado que exigiu do governo a entrada do BNDES. Ao não aceitar uma taxa de retorno dentro dos parâmetros possíveis no atual momento do país, o mercado deixou claro que só participaria dos leilões com isenções fiscais e financiamento via BNDES, mais barato.
José Dirceu
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