Coluna semanal de Paulo Coelho

Ensinando o cavalo a voar

Vamos dividir a palavra preocupação em duas: pré-ocupação. Ou seja, ocupar-se de algo antes que aconteça. Tentar resolver problemas que ainda não tiveram tempo de se manifestar. Imaginar que as coisas, quando chegam, sempre escolhem seu pior aspecto.

Há, é claro, muitas exceções. Uma delas é o herói desta pequena história:

Um velho rei da Índia condenou um homem à forca. Assim que terminou o julgamento, o condenado pediu:

- Vossa Majestade é um homem sábio, e curioso com tudo que os seus súditos conseguem fazer. Respeita os gurus, os sábios, os encantadores de serpentes, os faquires. Pois bem: quando eu era criança, meu avô me transmitiu a técnica de fazer um cavalo branco voar. Não existe mais ninguém neste reino que saiba isto, de modo que minha vida deve ser poupada.

O rei imediatamente mandou trazer um cavalo branco.

- Preciso ficar dois anos com este animal - disse o condenado.

- Você terá mais dois anos - respondeu o rei, a esta altura meio desconfiado. - Mas se este cavalo não aprender a voar, será enforcado.

O homem saiu dali com o cavalo, feliz da vida. Ao chegar em casa, encontrou toda a sua família em prantos.

- Você está louco? - gritavam todos - Desde quando alguém desta casa sabe como fazer um cavalo voar?

- Não se preocupem - respondeu ele. - Primeiro nunca alguém tentou ensinar um cavalo a voar, e pode ser que ele aprenda. Segundo, o rei está muito velho, e pode morrer nestes dois anos. Terceiro, o animal também pode morrer, e eu conseguirei mais dois anos para treinar um novo cavalo. Isso sem contar a possibilidade de revoluções, golpes de estado, anistias gerais.

"Finalmente, se tudo continuar como está, eu ganhei dois anos de vida, onde posso fazer tudo o que tenho vontade: vocês acham pouco?"

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