Um dos efeitos mais dramáticos da era da informação é o fim da privacidade, que para uns é uma desgraça, e outros, felicidade.
Hoje qualquer um pode ter seu próprio jornal, sua rádio e seu canal de televisão on-line, nunca os exibicionistas tiveram tantos meios para se mostrar, nem os maledicentes para expressar seus piores sentimentos, nem os pesquisadores e historiadores para ter acesso a informações preciosas para toda a sociedade.
Nunca na história desse planeta o ser humano pôde revelar tanto o seu melhor, e o seu pior, para tantos, em todos os lugares, ao mesmo tempo. E está só começando.
Uma das piores novidades nos Estados Unidos é a onda de namorados, maridos e amantes abandonados que postam fotos e vídeos íntimos de suas ex-amadas em sites como o You Got Posted, que logo são fechados, mas o estrago já está feito, as imagens já caíram na rede, empregos e amizades foram destruídos, algumas vítimas chegam a mudar de cidade e até de nome.
Mas os advogados de defesa alegam que as imagens foram feitas voluntariamente e culpam as vítimas, que raramente conseguem na Justiça uma indenização por danos morais.
Entre a liberdade de expressão e o direito à privacidade, os legisladores, as delegacias de crimes cibernéticos e os tribunais americanos ainda não sabem como lidar com a canalhice digital, mas, enquanto uma nova lei não vem, as mulheres estão reagindo com as mesmas armas e expondo na rede as deficiências dos ex-amados que as traíram. Já passou o tempo em que a vingança era um prato para ser comido frio, hoje se come on-line.
Novos sites de vingança abrem e fecham todo dia e têm cada vez mais audiência, pelo prazer perverso de ver pessoas comuns expostas e humilhadas. Na sociedade do espetáculo, agora é só uma questão de tempo para um seriado de TV, ou um filme de um mestre das vinganças como Tarantino, ou uma comédia politicamente incorreta de Larry David.
Só me resta recomendar a minhas filhas e netas que evitem fotos e vídeos peladas, porque ao contrário do amor, que é eterno só enquanto dura, suas imagens ficam para sempre no cyberespaço das misérias humanas.
Nelson Mota
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