Eleição 2014 - para Dilma e o PT nada mudou

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Aécio e o PSDB perdem feio e Serra volta do além-túmulo. Marina ganha no jogo da dança das cadeiras e Eduardo Campos está no pique aguardando para entrar na brincadeira.

A primeira pesquisa de intenção de votos da Folha de São Paulo para as eleições de 2014, publicada neste sábado - 12/10, após o "fator Marina-PSB" mostrou que tudo mudou para ficar como era antes.

Quem votava em Dilma ou no PT desde sempre continua votando e, aos poucos, sem a forte campanha midiática negativa do primeiro semestre, ela retoma os votos dos que não têm partido definido.

Quem não votava em Dilma ou no PT continua não votando, mas aqui ocorre a mudança. Os anti-petistas deixaram o PSDB e seus candidatos e adotaram Marina Silva.

Ou seja, nada mudou no que diz respeito à capacidade de Dilma e do PT levarem a eleição no 1º ou 2º turno, dependendo do cenário, mas o PSDB perdeu grande parte de sua base de apoio.

Como Aécio e Serra ficam, ambos, atrás de Marina, respectivamente 29X17 e 28X20, a perda é do PSDB e não de algum candidato específico. Ainda que Serra se saia um pouco melhor devido provavelmente ao voto paulista que o mineiro não conseguiu conquistar.

Independente dos números, cabe notar se a qualidade dos votos de Marina. Marina vence entre os que têm maior renda e maior escolaridade. Esse é o perfil do eleitor que votava e ainda vota com o PSDB. Logo, a parcela desse eleitorado que migrou para Marina foi a anti-petista mas que já não se identifica mais com o PSDB também. E essa parcela não é pequena, 12 pontos percentuais no caso de Aécio Neves e 8 pontos em relação a Serra, aqui outra vez, provavelmente, devido ao voto paulista citado acima.

Como Marina ganha também entre os eleitores mais novos – de 16 a 24 anos, ou seja, os sonháticos, é a sua presença que cria o único cenário onde pode haver um segundo turno, independe da presença de Serra ou Aécio.

Agora vejamos, ainda em relação à qualidade desse eleitorado: anti-petistas, desiludidos e sonháticos formam uma "3ª via" política ou são um ajuntado circunstancial?

Essa é uma questão que cabe ao PSDB responder. Como em uma eleição de 2 turnos, no primeiro turno, o terceiro colocado briga com o segundo, Marina deve começar a apanhar dos tucanos e de seus aliados.

Dilma e o PT, neste instante, estão na confortável situação de aguardar o desafiante sobrevivente.

Detalhe importante, Eduardo Campos melhorou muito sua porcentagem, foi de 8% para 15%. Foi o "fator Marina" ou foi o fato de Eduardo ter entrado na campanha e a sua exposição na mídia que lhe trouxe essa melhoria? Aguardemos as próximas pesquisas. A sorte de Marina ou de Eduardo na chapa do PSB depende desse índice.

Ah, a pesquisa de intenções de voto no 2º turno insinua que Marina, por hora, não transfere votos para Eduardo Campos, explico abaixo. Sua melhora seria, portanto, até aqui, por méritos próprios.
2º turno, Marina prende e os outros soltam.

A pesquisa sobre a intenção de votos no 2º turno mostra mais ainda essa opção do anti-petismo por Marina. Embora Dilma ganhe em todos os cenários de 2º turno, é contra Marina que obtém o resultado mais apertado. Perigosos 47 X 41. Ou seja, Marina agregaria no 2º turno boa parte dos votos que no 1º turno teriam sido dados ao PSDB.

Dilma venceria Aécio por 54 a 31 e venceria Serra por 51 a 33. Quando Marina não está presente, seus votos migram majoritariamente para Dilma e não para Eduardo Campos. Em um hipotético 2º turno entre Dilma e Eduardo Campos, Dilma venceria de 54 a 28.

Marina e a detergente luz solar.

Outro fator a se considerar é o índice de conhecimento dos eleitores em relação aos candidatos.

Dilma e Serra são muito conhecidos - 99% e 97%. A opinião dos eleitores em relação a eles e, portanto, o seu índice de rejeição, não deve mudar. Melhor para Dilma - 27% e pior para Serra – 36%.

Surpreendentemente Aécio ainda é pouco conhecido. Dele 57% do eleitorado ou não o conhece (22%) ou só o conhece de ouvir falar (35%). Isso é um péssimo sinal. Aécio esteve muito exposto na mídia há pouco tempo, protagonizou as inserções do programa do PSDB na televisão. Parece que poucos aceitaram seu convite para conversar.

Outra surpresa é o índice de rejeição de Eduardo Campos – 25%. Considerando que 75% do eleitorado ou não o conhece (43%) ou o conhece só de ouvir falar (32%), esse índice é estranho. É muita rejeição para quem é tão pouco conhecido. Como propaganda eleitoral é para falar bem do candidato e não mal, no decorrer da campanha esse índice pode mudar para melhor.

O oposto se dá com Marina Silva. Ela tem a menor rejeição – 17%. Ocorre que Marina Silva apesar de muito conhecida – 88%, tem apenas 23% do eleitorado que declara que a conhece muito bem, só para termos de comparação, 56% do eleitorado declara conhecer Dilma muito bem. 35% do eleitorado diz conhecer Marina um pouco, 31% a conhece só de ouvir falar e 12% não a conhece. Logo, 77% desse eleitorado ainda tem o que conhecer a respeito de Marina.

Qual o problema? O problema é que Marina cultiva para si mesma junto ao eleitorado uma figura mítica. Algo como a sacerdotisa ou fada madrinha da floresta, pura e benfazeja. Mas Marina, como política, é um poço de contradições.

É a ecologista evangélica criacionista e é a progressista conservadora que defende o direito das mulheres e minorias, mas é contra a descriminação do aborto e contra o casamento ou mesmo o relacionamento homo-afetivo. É a participativa intolerante, é a verborragia "propositiva e programática" sem proposta e é a "sustentabilidade da nova política horizontalizada em rede", mas filiada a um partido político tradicional e suas alianças nem sempre alicerçadas em "coerência ideológica".

A campanha não levará Marina a ser mais conhecida, mas o eleitor a conhecer melhor Marina e as suas contradições.

O que acontecerá então? Não sei. Mas sei que os votos que migram de Marina vão para Dilma.

Pelo menos, é o que mostra a pesquisa da Folha deste sábado.

Sérgio Saraiva

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