Embora pareça simples a resposta a esta pergunta, ela em verdade é cheia de ambigüidades e complexidades. o equívoco mais vastamente espalhado é o que entende que dar é “abandonar” alguma coisa, ser privado de algo, sacrificar. a pessoa cujo caráter não se desenvolveu além da etapa da orientação receptiva, explorativa, ou amealhadora, experimenta o ato de dar dessa maneira. o caráter mercantil deseja dar, mas só em troca de receber;
Dar sem receber, para ele, é ser defraudado. (Man for Himself, E. Fromm, Londres, Routledge, 1949.) aqueles cuja principal orientação é não-produtiva sentem que dar é um empobrecimento. a maioria dos indivíduos desse tipo, portanto, recusa dar. alguns fazem do ato de dar uma virtude, no sentido de um sacrifício. sentem que, por ser doloroso dar, deve-se dar; a virtude de dar, para eles, reside no próprio ato de aceitação do sacrifício. para eles, a norma de que é melhor dar do que receber significa que é melhor sofrer privação do que experimentar alegria.
Para o caráter produtivo, dar tem um sentido inteiramente diverso. dar é a mais alta expressão da potência. no próprio ato de dar, ponho à prova minha força, minha riqueza, meu poder. essa experiência de elevada vitalidade e potência enche-me de alegria. provo-me como superabundante, pródigo, cheio de vida e, portanto, como alegre. dar é mais alegre que receber, não por ser uma privação, mas porque, no ato de dar, encontra-se a expressão de minha vitalidade.
texto de Erich Fromm no livro A arte de amar
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