Como lidar com a tristeza do fim de ano

Especialistas explicam por que algumas pessoas “destoam” do estado de euforia da época e dão dicas para quem se sente mais deprimido durante as semanas da virada

Alessandra Oggioni - especial para o iG 
Há mais de 25 anos as comemorações natalinas trazem momentos de extrema tristeza para a terapeuta Viviane Marangoni, 43. Neste período, Viviane relembra a briga feia que teve com o pai no dia de Natal, quando foi expulsa da ceia aos 17 anos. Sozinha e sem ter para aonde ir, ela ficou parada, no meio da rua, pensando sobre a vida. Desde então, a data perdeu todo o encantamento. “É como se eu ainda me visse naquela cena. Se eu pudesse, pularia de novembro direto para janeiro”, diz.
Além dos traumas, a pressão constante para estar feliz, celebrar e refletir sobre as conquistas do ano também pode incomodar


Relembrar fatos tristes, sentir saudade de pessoas que morreram ou ter de encontrar parentes com os quais não se dá bem são motivos frequentes para as pessoas ficarem deprimidas nesta época do ano. E não são só traumas do passado que assombram a virada do ano: a pressão constante para estar feliz, celebrar e refletir sobre as conquistas do ano também pode incomodar.

A psicóloga clínica Maria Aparecida das Neves explica que isso acontece porque o Natal pressupõe um clima de harmonia, de encontro com a família e, para alguns, isto não é prazeroso. “Tem gente que não tem afinidade com os familiares, mas sim conflitos. Daí, o encontro se dá por obrigação e isto desencadeia raiva, sofrimento e reaviva mágoas”, afirma.
Mesmo com a briga já superada – hoje ela conversa e convive normalmente com o pai – e o esforço para comemorar a data junto da filha, Vitória, de 6 anos, e do marido, Antônio, Viviane ainda não conseguiu retomar a alegria tão típica desta época. “Monto a árvore por conta da minha filha, mas acho que o Natal perdeu um pouco o verdadeiro significado. Não considero uma noite especial”, declara.
Superar adversidades com familiares nem sempre é fácil. No caso de Viviane, foram quatro anos sem conversar com o pai. No entanto, a psicóloga Paula Pessoa, especialista na área comportamental, diz que o Natal pode ser até um momento propício para tentar uma reconciliação, pelo fato de as pessoas ficarem mais sensíveis. “Tente aproveitar o clima de natal para se aproximar ou, pelo menos, para não brigar, nem discutir. Este é o período certo para trabalhar o enfrentamento, olhar adiante, comemorar os momentos bons e tentar se esquecer das coisas ruins que passaram”, indica a especialista.

“O Natal está dentro da gente e, muitas vezes, é preciso mostrar aos outros a nossa necessidade de confraternizar e se reunir”, diz a psicóloga Maria Aparecida das Neves
Solidão
Muitas vezes, a tristeza não vem de nenhuma briga ou conflito familiar, mas, sim, de um sentimento de solidão. É o caso da artista plástica Adriana Guivo. Ela se dá bem com a mãe e a irmã, mas se sente solitária na ceia, já que a família não celebra a data. “Elas não veem nada de especial no Natal. E eu sinto que esse é um dia tão família que fico triste em não ter como comemorar. Me sinto um tanto quanto sozinha”, diz ela.
Adriana conta que já tentou driblar o sentimento de solidão várias vezes, até mesmo passando o Natal na companhia da família de uma amiga. Apesar de ter sido bem recebida, a tristeza não passou. “Em vez de me sentir acompanhada, me senti igualmente chateada ao vê-los ali, trocando presentes e sendo tão unidos. Talvez seja uma data que me faça perceber algo que não tenho e que adoraria ter formado”, relata a artista plástica.
Aparecida sugere fazer convites para um jantar ou um almoço especial, ainda que não no dia de Natal, e cultivar o hábito de se encontrar com os familiares de forma mais frequente durante o ano.Para resolver questões como a de Adriana, a psicóloga Maria Aparecida das Neves recomenda tomar a iniciativa de aproximação de parentes e amigos e jamais se isolar. “O Natal está dentro da gente e, muitas vezes, é preciso mostrar aos outros a nossa necessidade de confraternizar e se reunir”, diz a especialista.
E é exatamente isso que Adriana está fazendo. Neste ano, ela vai reunir cerca de dez amigos na casa dela para uma espécie de “pré-Natal”, antes do dia 24, com direito a peru e outros itens tradicionais. “Acho que, às vezes, depende de nós mesmos mudarmos o que sempre se repete e não nos agrada. Mesmo que não seja na noite de Natal, será uma compensação pelo o que a época, em si, representa”.