Mesa, formada de surpresa, era composta por autoridades em um assunto que está em evidência e ao qual se deve, pelo que escutei, prestar muita atenção: alimentos que contenham glúten ou não, e os preços desses alimentos. Mas a história aqui não vem ao caso. O que conta mesmo foi a improvisação do agradável encontro em volta de uma descontraída mesa. Os nomes não vêm ao caso. Havia uma que estava grávida e preocupada com uma prova de inglês que prestaria assim que retornasse de viagem, uma que ainda estava em lua-de-mel e outra, de olhos límpidos e cintilantes como dois brilhantes simpáticos. De repente, até parecia que nos conhecíamos há tempos, dada a informalidade e descontração. A simpática senhora ainda em lua-de-mel era jovem e bonita e seu marido encontrava-se a pelo menos 2 mil quilômetros da capital federal, local do seminário ou coisa semelhante. E aí, assim, sem mais nem menos, a senhora em lua-de-mel pediu que a amiga grávida lhe emprestasse o celular para ligar para o marido... Fez-se silêncio e ela disse: "não atendeu!" E ligou de novo, e de novo. O circunstante fez chiste com o silêncio do outro lado da linha, insinuando bobice, que talvez o marido não pudesse atender porque estaria ocupado e "ocupado", no caso, dito com maledicência. "Acho que liguei o número errado..."e pediu para tentar mais uma vez. A mesma coisa. "O telefone celular chamado está fora de área ou temporariamente desligado..." - o rosto da jovem esposa, simpática e bonita assumiu um ar de preocupação enquanto as amigas brincavam: "como é que você esqueceu o número dele?" "Eu apenas disco "maridão" na lista de contato, nunca ligo pelo número. Fazia sentido, mas não conseguia fazer contato. Nem lembro quantas vezes ela tentou sem conseguir. O circunstante sugeriu: "olha, esquece, vai ver ele está ilhado, faltou energia no mundo, está desmaiado, foi sequestrado por um disco voador..."e outras molecagens que arrancavam risadas, mas com o canto do olho dava para notar que ela estava pedindo pelo amor de deus que o "maridão"atendesse.
De repente, disse: "ah, lembrei o número. Dá aqui de novo..."e estendeu a mão para pegar o telefone da amiga. Daí o circunstante falou: "vai ligar? Vai? Quer apostar como ele não vai atender? E as amiga concordaram com o circunstante e também acharam que ele não atenderia. Ela desistiu e bebeu uma taça de vinho. No rosto, na alma, nos olhos, dava para ver um "atende, desgraçado!" O circunstante sugeriu: "esquece, vamos mudar de assunto, vamos falar de outra coisa, vamos brindar, fazer o pedido, essas coisas, e fez uma pausa... E voltou a perguntar: "Esqueceu?" A jovem esposa um pouquinho mais aliviada e com um sorriso sem graça e com a taça do bom vinho das mãos respondeu com ingenuidade: "esqueci!" E o circunstante disse, "agora LEMBRA!" E ficou até a última taça nessa de "esqueceu?", agora lembra. A história pode até parecer meio sem graça, mas deu asas à imaginação, que é a melhor coisa que pode acontecer dentro da cabeça de quem escreve. E imaginei o "maridão" vendo depois, do que quer que seja que estivesse fazendo, um número que ele desconhecia e o marido da simpática grávida atendendo... "Quem está falando?" "Com quem deseja?" "Ligaram para mim desse número..." "Eu não fui..." "Mas ligaram..." "Esse telefone é da minha mulher... Por que ela ligaria para o senhor?" "E eu vou saber? Pergunte a ela..." "Quem é o senhor?" "Não interessa..." E bate o telefone. Depois, bem depois, o marido da simpática grávida a interpelaria: "quem foi o cara que ligou do teu telefone?" E ela explicaria. Enquanto isso, no outro extremo do país, a esposa em lua-de-mel perguntaria "por que você não atendeu às chamadas?" e ele teria todas as razões do mundo para explicar assim "porque não era o seu número..." E todos seriam felizes para sempre... E ela continuaria sua lua de mel sem glúten. Talvez, no máximo, com uma pulga atrás da orelha...
Por A. Capibaribe Neto
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