Com o fim do contrato do marqueteiro do PSDB, Renato Pereira, que vence no fim do mês e não será renovado, o provável candidato à Presidência pela sigla, senador Aécio Neves (MG), adotará um discurso mais incisivo de oposição ao governo. A mudança já foi notada ontem, ao lançar um roteiro com diretrizes para a campanha de 2014 com um tom mais crítico à presidente Dilma Rousseff e ao PT.
Havia uma diferença primordial na visão de Pereira e de Aécio sobre a construção do "personagem político" do futuro candidato a presidente. Pereira defendia um Aécio que não fosse raivoso, e sim generoso e terno, que se diferenciasse da prática da "velha política" pautada por ataques. O marqueteiro acreditava que o tucano poderia dialogar com os eleitores que foram às ruas em junho e se apresentar como um político mais descolado.
Mas tanto Aécio quanto membros do PSDB apostam que a sigla precisa ter um tom mais crítico, de oposição ferrenha ao governo atual. Acreditam que devem poupar apenas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as conquistas sociais do PT.
Além disso, para a cúpula tucana, os programas de rádio e TV feitos por Pereira não surtiram o efeito esperado nas pesquisas de intenção de voto. Embora Aécio tenha estrelado todas as peças veiculadas em cadeia nacional, o senador segue com níveis abaixo do esperado pela sigla - no Ibope, em novembro, ele obteve 14%. Um índice mais alto poderia justificar a renovação do acordo. O partido não pretende designar um novo marqueteiro tão cedo. O publicitário Nizan Guanaes vai ajudar informalmente.
Paulo Vasconcelos, marqueteiro das campanhas de Aécio e do PSDB em Minas, disse ontem que não foi procurado, mas não descartou a possibilidade. "Se eu tenho alguma opinião para dar, não passa de afeto, de amizade, mas não há nenhuma rotina profissional nossa há dois anos."
O rompimento entre Aécio e Pereira foi divulgado ontem pelo jornal Folha de S. Paulo.
Outro ponto de atrito foi o "excesso de palpites" de membros do PSDB à propaganda partidária, segundo interlocutores de Pereira. Inclusive o da irmã do tucano, a presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social de Minas Gerais (Servas), Andrea Neves, uma de suas principais conselheiras.
Para os tucanos, isso é solução, e não problema. Na campanha passada, o então candidato José Serra era muito afinado com o marqueteiro Luiz Gonzales. Na prática, significava que palpites do partido não eram ouvidos. Aécio, ao dar espaço para colegas de legenda, conseguiu angariar apoio em torno de seu nome.
Vice-presidente do PSDB, o senador Cássio Cunha Lima (PB) se queixou de uma gafe em uma das peças produzidas pela equipe de Pereira. "Parece uma coisa pequena, mas é inadmissível ter passado um erro na propaganda de TV em que a van conduzida por Aécio comete uma infração de trânsito." Na peça, o veículo faz uma ultrapassagem proibida. Outro fator de desgaste foi a ausência de Pereira em evento do PSDB em Poços de Caldas (MG), no mês passado.
por Débora Bergamasco com a colaboração de Eduardo Kattah
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