Daniel Dantas, FHC, Serra, Gilmar Mendes e o lobista

Autor: Fernando Brito

O livro Operação Banqueiro, de Rubens Valente, completa, de maneira estarrecedora, o emaranhado parcialmente montado em 2011 pela revista Época sobre os e-mails do lobista contratado por Daniel Dantas – com a anuência aparente de Fernando Henrique Cardoso, como se deduz da mensagem enviada por este, Ricardo Amaral (foto menor) ao então presidente da República e também reproduzido acima.
Está de posse do Procurador Geral da República este material, que dormiu por quatro anos nas gavetas do ínclito Roberto Gurgel, antecessor de Rodrigo Janot na chefia do Ministério Público.
É o conteúdo dos discos de computador do lobista Ricardo Figueiredo Amaral, um audacioso agente de negócios desde que operava na empreiteira Andrade Gutierrez.
É duvidoso que ele deixe isso ser enterrado em silêncio.
Mas , infelizmente, é provável que seja assim.
Duvidoso porque inda não é material morto, porque há recurso da decisão que anulou as provas da Operação Satiagraha.
Nele, revela Rubens Valente, há mensagens que não poderiam ter mais explicitude.
Não apenas agentes privados determinam quem não pode ser nomeado nas agência reguladora afeta aos negócios de Dantas e do Opportunity.
Há um claro tráfico de influência, senão chantagista ao menos ordinatório, sobre o Governo Brasileiro.
Há um destampatório mais que ameaçador sobre José Serra, com recibo de cópia para "A pessoa", que Valente identifica como Fernando Henrique.
Tráfico de influência que envolveria também o então chefe do Judiciário, Gilmar Mendes que deu os dois habeas-corpus que libertaram Daniel Dantas.
Está publicado no livro, mas não se tornará efetivamente público.
A Folha, o jornal onde Rubens Valente trabalha, não foi além de registrar o livro.
Mas o que o livro diz não vira pauta.
Ao contrário,  o registro é o – para usar o título de dois dos e-mails de Amaral  - "broxante":
"Segundo o livro, as mensagens sugerem que Dantas pediu ajuda ao ex-presidente e a outras autoridades para barrar investigações que o Ministério Público conduzia sobre seus negócios na época.(…)
De acordo com o livro, Amaral enviou várias mensagens a ajudantes de ordem de Fernando Henrique para se comunicar com ele. Não há registro de que esses e-mails foram encaminhados ao ex-presidente e lidos por ele.
Um dos e-mails sugere que Dantas contava com o apoio de Mendes numa disputa com a Agência Nacional de Telecomunicações e para manter na agência um procurador simpático a seus interesses.
Em 2008, quando Mendes estava no Supremo e Dantas estava preso, o ministro concedeu habeas corpus para libertá-lo e fez críticas públicas à maneira como as investigações foram conduzidas.
"Eu nunca vi Daniel Dantas", disse Mendes à Folha. "Na Satiagraha, houve abuso na investigação e minhas decisões impuseram uma derrota ao Estado policial."
Em mensagem a Rubens Valente, o ex-presidente Fernando Henrique disse que sabia da relação de Roberto Amaral com Daniel Dantas e afirmou que nunca tomou medidas para favorecê-lo.
A assessoria do Opportunity afirmou que Dantas desconhece as mensagens encontradas pela polícia na residência de Roberto Amaral.
Isso ontem, lançamendo do livro.
Hoje, nada.
E é o trabalho de seu repórter.
O que é acusado por Dantas de fazer parte de uma conspiração contra o Opportunity.
Em qualquer parte do mundo, a República estaria abalada.
Aqui, a culpa é do repórter, como foi dos policiais e juízes que tentaram chamar Dantas à lei.

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