por Fernando Nogueira da Costa, em seu blog, sugerido pelo Julio Cesar Macedo Amorim
Um farsante (tipo “direitopata” ou “esquerdofóbico), fazendo-se passar por um alfaiate de terras distantes (assumido “defensor da democracia liberal”), diz a um determinado rei (a mídia oposicionista) que poderia fazer uma roupa muito bonita e cara, mas que apenas as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei, muito vaidoso, gostou da proposta e pediu ao “salvador da pátria” que fizesse uma roupa dessas para ele.
O farsante recebeu vários baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros e exóticos, exigidos por ele para a confecção das roupas (consultoria). Ele guardou todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis, que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpidas.
Até que um dia, o rei (verbi gratia, a imprensa) se cansou de esperar, e ele e seus ministros quiseram ver o progresso do suposto alfaiate. Quando o falso tecelão mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei exclamou: “Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!”, embora não visse nada além de uma simples mesa, pois dizer que nada via seria admitir na frente de seus súditos que não tinha a capacidade necessária para ser rei.
Os nobres (empresários em busca de privilégios) ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do tapeador, nenhum deles querendo que achassem que era incompetente ou incapaz. O rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse as vestes especiais. A única pessoa a desmascarar a farsa foi uma criança, exclamando: “O rei está nu!”. O grito é absorvido por todos, de maneira constrangedora, o rei se encolhe, suspeitando que a denúncia infantil é verdadeira, mas dá continuidade à procissão…
A entrevista do Valor (16/01/13) com Francisco Lopes (ex-presidente do Banco Central do Brasil no Governo FHC) e a de Luiza Trajano (presidente da rede de comércio varejista Magazine Luiza) ao programa de televisão direitista Manhattan Connection mexeu com os brios da imprensa brasileira. Os jornalistas estão reagindo que nem os cidadãos quando a criança denunciou: “O rei está nu!”. O discurso alarmista da oposição foi desmascarado por esses insuspeitos entrevistados. Os repórteres que o divulgaram, acriticamente, estão caindo em si diante da farsa estar vindo à luz.
Dona Luíza, empresária de Franca que começou com uma lojinha e hoje é a 3a. maior rede do varejo brasileiro, contrapôs contra-argumentos factuais e lógicos a cada um dos odiados Manhattaner, com elegância, classe e extrema simplicidade. Chico Lopes, depois das entrevistadores terem tentado o pautar para responder só de acordo com aquele discurso típico alarmista, ele se esquiva, denunciando a artificialidade deste “pessimismo”.
Chico Lopes diz que a coisa que mais lhe incomoda, atualmente, é o pessimismo. “As análises estão muito contaminadas pela disputa eleitoral, isso atrapalha um pouco”. Afirma que há uma falsa interpretação de economistas oposicionistas segundo a qual poderíamos voltar a crescer 4%, se a política econômica for ‘correta’ com menos intervenção. Fazem apenas uma análise conjuntural pessimista. Não praticam uma abordagem estruturalista com visão de longo prazo.
Lopes acha que há um equívoco por trás do pensamento dos economistas, segundo o qual o crescimento normal possível é 4%. Há dois fatores que atuaram de forma importante em 2012 e 2013 e acredita que não vão atuar em 2014. Primeiro, a taxa de câmbio. “Na verdade, nos últimos dois anos, o Brasil fez uma desvalorização em termos reais de quase 20%, que é uma mudança muito grande”. Em 2012 e 2013, “o maior problema foi o crescimento baixo da indústria de transformação, medíocre e muito abaixo da média histórica. (…) Ao mesmo tempo, nos últimos dois anos, o quantum de importações cresceu mais de 20% nesses dois segmentos: bens de consumo não duráveis, como alimento, e bens intermediários de modo geral. Olhando a economia, vejo que a demanda está crescendo no normal e a produção não está crescendo porque a capacidade bateu no teto, falta trabalhador, e porque fizemos uma política cambial errada”.
Lopes diz que é necessário a imprensa entender a política econômica do governo. “A ideia de que não está havendo investimento no Brasil me parece equivocada. Vejo um mundo de construção civil sendo feito, como metrô, estradas, portos. A formação bruta está crescendo 8% ao ano nos últimos anos. E vemos a indústria automobilística fazendo fábricas”. Se perguntar aos empresários se vão parar de investir, “eles dizem que não, por razões estratégicas, porque estão a plena capacidade e têm que fazer uma fábrica nova”. Ele alerta: “tem um jogo político, do lobby, e o governo, muitas vezes, é ingênuo e cede a esse tipo de pressão. Esse é um dos erros de política econômica”.
Lopes não condena e nem acha que foi um equívoco a política de redução de juros, porque ela teve uma consequência da maior importância, gerou a correção da taxa de câmbio. “Isso teve um custo inflacionário, mas foi feito dentro de certos parâmetros. Na hora em que a inflação passou a incomodar, o BC reverteu a política”. A taxa de juro real de 5% a 6% se justifica, transitoriamente, como estratégia de controle da inflação. “Mas, como posição permanente, transforma o Brasil em uma economia de rentistas”.
“A tese de que o Brasil tem déficit público muito grande não é verdade. Em comparação com outros países, a posição fiscal brasileira é muito favorável”, afirma Lopes. “Do ponto de vista de formulação econômica, o que interessa é a dívida líquida. Os mercados gostam de olhar o conceito de dívida bruta, porque os governos frequentemente usam os mecanismos da dívida líquida para esconder coisas. Quando se analisa a dívida bruta, de 60% do PIB, tem que considerar que quase 20% tem a contrapartida de reservas. (…) Acho a posição fiscal do Brasil confortável e todo mundo reconhece isso. A dívida bruta de outros países é de 90%, 100% do PIB”.
O governo deveria deixar claro que tem uma meta, que é a de estabilizar a dívida líquida como percentual do PIB, assumindo que vai usar a folga fiscal que tiver para fazer gastos sociais. Ideologicamente, “se pode discordar dessa posição, achando que o Brasil deveria levar a dívida líquida para 20% do PIB, que é mais importante do que fazer gastos sociais”.
O que mais se salienta na entrevista de Lopes é que ele explicita o debate ideológico colocado em seus termos. É um neoliberal que reconhece méritos do Governo de ideologia oposta, o que é incomum em Terrae Brasilis… Na verdade, a ideologia do Governo Dilma é social-desenvolvimentista, mas ele a classifica como socialista, demonstrando falta de precisão política, o que é comum entre economistas com formação ortodoxa. Sua virtude é não cair no “contrarismo”, isto é, o dogma de ser sempre contra o “governo do PT”. Divulgar falsas ideias, contra factuais, automática e impensadamente, apenas por que se trata de criticar o governo, é tão equivocado como seguir o “comportamento de manada”, tipo “Maria-vai-com-as-outras”.
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