O editorial de O Globo sobre o salário-mínimo para o qual o Miguel do Rosário nos chama a atenção, não é uma cobrança aos candidatos de oposição à Dilma.
Até porque não é preciso cobrá-los.
Tanto Aécio Neves (em maio) quanto Eduardo Campos (em outubro) já se comprometeram a isso.
Mas é preciso traduzir na língua do povo o que querem dizer ao defender a desindexação do salário mínimo.
É simples: arrochar o salário.
Porque os argumentos, é claro, de que “o país precisa de menos mecanismos que projetem para frente a inflação do passado” não são para que se dê aumentos maiores que a inflação aos trabalhadores mais modestos e à imensa maioria dos aposentados e pensionistas.
O aumento do salário-mínimo, a continuar, será o desastre econômico, dizem eles.
Todos sabem que também se previu o desastre econômico com a abolição da escravatura, não é? Como os fazendeiros poderiam fazer frente ao custo de pagar àqueles negros, para que trabalhassem, se já tinham a senzala e os restos de comida a pesar na competitividade de nossos produtos?
Não vou aqui me perder em discussões sobre déficit público e sobre os ganhos reais que o salário-mínimo teve com Lula e Dilma.
Não é preciso, para que o povo o entenda.
Basta que se lhe diga que, para eles, o que tem de ser mudado é o aumento do salário-mínimo.
A aposentadoria, o bolsa-família, a pensão, o benefício aos inválidos.
É por isso que não perco meu tempo chamando a qualquer dos dois candidatos a feitor do povo brasileiro de “tolos” ou “playboys”.
Não são.
São monstros, que vendem o direito à dignidade de nossos irmãos pobres no mercado de suas ambições eleitorais, que vendem os brasileiros como se vendiam os negros cativos no mercado das praças.
Dez anos de governo progressista – e apenas sete de aumentos minimamente significativos no salário mínimo – e o pouco que fizemos já é, para eles, intolerável e ruinoso.
O canalha que emprestou sua mão para escrever o editorial de O Globo, capaz de dizer que um real de aumento do salário gera R$ 340 milhões por ano de despesa, no meu tempo merecia ser puxado pela orelha até uma mãe pobre, com suas crianças no modesto barraco, e ser mandado dizer isso a ela.
Esta mesma pena de aluguel não diz que, para os juros pagos à turma da grana alta, para os quais sempre defendem a indexação para cima, um mísero ponto percentual a mais custa 80 ou 90 vezes mais que aquele R$1 no salário.
Isto, meus caros amigos, é o que o povo tem de julgar, avaliar e decidir.
Se quer de novo um feitor ou se quer, lentamente, ir cumprindo a profecia do homem que instituiu o salário-mínimo como mísera garantia aos despossuídos de não seriam, nunca mais, escravos de ninguém.