De acordo com pesquisa global, 78% das mulheres brasileiras não chegam ao orgasmo em todas as relações sexuais. A solução para este problema passa pelo autoconhecimento
Giovanna Tavares
Em vez de sentir prazer após o sexo, a maior parte das mulheres sente frustração. É o que apontam os resultados da pesquisa Durex Global Sex Survey, que analisou o comportamento sexual de homens e mulheres em 37 países.
De acordo com a pesquisa, 78% das mulheres brasileiras não chegam ao orgasmo em todas as relações sexuais. Na outra ponta da estatística, 3% delas nunca chegaram ao clímax, contra 0% dos homens. O resultado: 56% das mulheres não estão satisfeitas com a vida sexual.
Embora a dificuldade para atingir o orgasmo seja muito comum, ela não está ligada a algum problema de saúde, na maior parte dos casos. Está, sim, ligada a causas diversas, que vão desde a falta de conhecimento do próprio corpo até uma postura egoísta do companheiro.
Para "chegar lá" é fundamental conhecer o próprio corpo e não ter problemas em explicar para o parceiro o que dá prazer
“Dizemos que o orgasmo precisa de fantasia e fricção, porque a mulher tem de estar com o pensamento erotizado, concentrada no momento e também dependendo do estímulo correto. Para isso ela precisa se conhecer, não ter medo da masturbação, que é um ótimo exercício de autoconhecimento. Se ela não se conhece, não tem como guiar o parceiro”, explica Carolina Ambrogini, ginecologista e coordenadora do Projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo.
Segundo a especialista, além da falta de conhecimento, as mulheres tendem a ficar muito mais tensas que os homens durante a relação, pensando se estão tendo o desempenho e comportamento corretos ou se estão agradando o outro lado.
Essa preocupação em satisfazer exclusivamente o parceiro, durante a relação, é uma situação muito comum entre as mulheres, que acabam deixando de lado o próprio prazer. Durante muito tempo, a jornalista Camila Carvalho, de Porto Alegre, se sentiu mais responsável pelo orgasmo do parceiro do que qualquer outra coisa.
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“A primeira vez que tive um orgasmo foi sozinha, porque a prioridade nas relações sempre era o meu ex-namorado. Então, ele gozava e acabava me interrompendo. Eu ficava frustrada comigo mesma caso ele não conseguisse chegar lá, não pensava no meu prazer”, conta ela, que também sentia um pouco de egoísmo da parte do parceiro, já que as preliminares pendiam só para um dos lados: o dele.
Nesse momento, intimidade, parceria e companheirismo entre o casal são fundamentais para resolver questão de um lado estar “aproveitando” mais do que o outro. “Precisa existir a cumplicidade entre os dois, para que a mulher se sinta à vontade para dizer sim e também para dizer não. Mas existe tanta cobrança acerca da vida sexual das mulheres, como se elas fossem responsáveis por segurar seus homens com o sexo, que a sinceridade acaba ficando de lado”, explica a sexóloga e educadora Cida Lopes.
Autoconhecimento e diálogo
Ao contrário dos homens, as mulheres têm pouca intimidade com o próprio órgão sexual, o que explica o fato de muitas não saberem onde fica o clitóris ou como é o formato da vulva, por exemplo. Como a masturbação feminina sempre foi encarada como algo proibido, poucas mulheres cultivaram o hábito de conhecer o próprio o corpo, o que acabou se transformando em outra dificuldade para atingir o orgasmo.
“Se acontecer de o homem gozar antes, a mulher ainda pode se satisfazer de outras maneiras, pela masturbação ou pelo sexo oral. Mas ela precisa saber do que gosta para conseguir guiar o parceiro”, afirma Cida Lopes.
Para a barista Fernanda Reis, de São Paulo, ter autonomia sobre o próprio corpo sempre foi fundamental para sentir prazer. “Nunca consegui gozar por penetração, mas aprendi que posso chegar lá por outras formas, me conhecendo e me tocando”, conta ela. Durante algum tempo, Fernanda se sentiu frustrada por não conseguir ter orgasmo com a penetração. “Achava que eu era incompleta, estranha, mas isso passou. Se eu consigo sentir prazer de outras maneiras, é o que importa”, completa a barista.
Mesmo estando muito bem resolvida com o próprio corpo e prazer, Fernanda já teve de encarar parceiros que não aceitaram muito bem o fato de ela se acariciar durante o sexo para conseguir chegar ao orgasmo. “Tem homem que simplesmente não aceita, e quando é assim, eu desencano, porque sexo tem que ser bom para os dois lados”, acredita ela.
“Ainda existe um machismo grande nas relações em geral, ou seja, a ideia de que o homem é que tem que proporcionar o prazer da mulher. Mas para não ofendê-lo, ela pode tentar mostrar com gestos como prefere ser acariciada, em vez de falar abertamente, de maneira sutil”, aconselha Carolina Ambrogini.
Justamente pelo fato de o sexo ser uma relação construída e aproveitada por duas pessoas, não vale que apenas um dos lados saia satisfeito. Marina P.*, designer de São Paulo, também enfrentou essa mesma dificuldade que outras mulheres enfrentam, mas por uma causa que nada tinha a ver com ela e, sim, com o egoísmo do parceiro.
“A gente se divertia juntos, mas no sexo eu sempre ficava passando vontade, porque ele gozava muito rápido e então dormia, dizendo que estava cansado. Fui relevando, até que precisei chamá-lo para uma conversa e explicar que eu tinha necessidades e ele tinha dedos, língua e criatividade”, relembra Marina.
O parceiro dela chegou a esboçar uma mudança, mas não deu muito certo. “Ele não tinha a menor noção do que era sexo oral, me fazia sentir mais dor do que qualquer outra coisa com os dedos e não aceitava quando eu tentava ensinar. Aí, eu fingia que gozava só pra acabar logo com aquilo”, explica a designer.
Mais orgasmo, por favor!
A resposta fisiológica do corpo ao orgasmo traz uma série de benefícios para as mulheres, com efeitos terapêuticos em longo prazo. Ele ajuda a evitar doenças como depressão e ansiedade, por isso é fundamental que as mulheres reconheçam a sua importância e não o deixem de lado durante as relações. “O orgasmo é uma conquista individual”, ressalta Cida Lopes.
Vale também ter em mente que fingir o orgasmo nunca é uma boa saída. “Existem mulheres que mentem por anos, mas a insatisfação chega a um ponto que ela busca ajuda profissional. Mas aí fica mais complicado explicar para o parceiro o motivo da mentira, prejudicando a relação”, ressalta Carolina Ambrogini.
Hoje, a jornalista Camila Carvalho compreende que o sexo pode ser tudo, menos uma obrigação. “Fico mais relaxada porque agora entendo que não preciso ser supersexual ou desejada na hora da relação, para priorizar o orgasmo do meu parceiro. O que importa é a conexão que vou ter com aquela pessoa, fazer daquele momento algo especial para ambos”, conclui ela.
*O sobrenome foi omitido a pedido da entrevistada
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