Leia abaixo como o jorna-lista Josias de Souza escreve e descreve a notícia:
Em evento transmitido ao vivo pela internet, o PT lançará na noite desta segunda-feira (10) a recandidatura presidencial de Dilma Rousseff. A caminho de Nova York, Lula não dará as caras. Sem ele a tiracolo, Dilma será estrela solitária dos festejos de 34 anos do partido. A aclamação está marcada para as 19h. Ocorrerá num auditório do Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, o maior e mais disputado colégio eleitoral do país. A festa é tratada pelo petismo como ato inaugural da campanha de 2014.
Na prática, será o segundo lançamento de Dilma. O primeiro ocorreu há um ano, em 20 de fevereiro, também na capital paulista. Deu-se num seminário organizado para celebrar os 10 anos do PT no poder federal. Respondendo a um discurso que o presidenciável tucano Aécio Neves fizera no Senado, Lula antecipara o jogo sucessório: “Eles podem se preparar, podem juntar quem eles quiserem, porque se eles têm dúvidas, nós vamos dar como resposta a eles a reeleição da Dilma em 2014.”
Nessa época, a estratégia do líder máximo do PT era nítida. Resumia-se a dois lances. No primeiro, Lula erguia a mão de Dilma para furar no nascedouro o balão dos que pediam o seu retorno. No segundo, o patrono da presidenta reeditava prematuramente a gincana do “nós” contra “eles”, que convertera as últimas cinco sucessões presidenciais numa disputa monopolizada por PT e PSDB.
Desde então, a conjuntura sofreu uma guinada que tornou o processo menos maniqueísta. Quatro meses depois do discurso de Lula, a juventude como que “desantecipou” a campanha nas ruas de junho. Dilma foi, por assim dizer, rebaixada. De candidata imbatível, tornou-se uma postulante apenas favorita.
Nascida de uma costela do governismo, a candidatura de Eduardo Campos (PSB), potencializada pela parceria com Marina Silva (Rede), ofereceu ao eleitorado uma opção à dicotomia tucano-petista. O processo tornou-se no mínimo mais complexo para o PT. A fórmula do “nós” contra “eles” ganhou a variável do nós contra nós mesmos. É algo que Lula receia. Em privado, ele diz que, num eventual segundo turno, Campos seria um adversário mais temível do que Aécio.
No ato político desta segunda-feira, além de celebrar seu aniversário, o PT festejará os 11 anos de poder. Em estratégia concebida pelo marqueteiro João Santana, o petismo mistura deliberadamente os oito anos de Lula com os três de Dilma. Faz isso para tentar mitigar os fracassos de Dilma, gerente de um governo sem marcas, com os êxitos de Lula, celebrizado como o presidente do social.
A oposição farejou a esperteza. E tenta neutralizá-la. Eduardo Campos diz que se orgulha de sua participação nos dois reinados de Lula. E acusa Dilma de ter tirado o Brasil dos trilhos. Aécio Neves sustenta a tese segundo a qual 2014 não será uma disputa do legado de FHC contra a herança de Lula. Segundo ele, o eleitor decidirá se Dilma merece continuar a partir do que ela fez ou deixou de fazer.
Considerando-se o último Datafolha, divulgado em dezembro, o vocábulo que guiará a disputa de outubro será “mudança”. Nada menos que 66% do eleitorado deseja que o próximo presidente tome decisões majoritariamente diferentes das que Dilma vem tomando. O PT sustenta que Dilma conduzirá as mudanças. As forças de oposição tentam convencer a plateia de que o ciclo do PT em Brasília se esgotou.
Por ora, o principal adversário de Dilma não é Aécio nem Campos. Sua grande rival é a conjuntura econômica. Em 2010, Lula gastou os tubos para eletrificar Dilma, comparada à época a um “poste”. Nesta semana, a ex-poste terá de definir com sua equipe econômica cortes bilionários no Orçamento. Ante um cenário de economia claudicante, Dilma cozinha os problemas em panela de pressão, torcendo para que a tampa resista até 2015.
Com os dedos cruzados, Dilma torce pelo êxito da seleção de Felipão na Copa e reza para que a besta coletiva não produza nas ruas um grande estrago. O monstro não tem bandeiras definidas. Mas, a despeito da pauta fluida, mostrou do que é capaz em junho de 2013.
Nas duas eleições que venceu, Lula sempre teve em FHC o Outro a ser apedrejado e humilhado. Tratou-o como o demônio a ser exorcizado também na disputa em que fez a sucessora. Hoje, o PT é o seu próprio Outro, o seu próprio demônio. Onze anos de administração produziram o hábito da reincidência, da repetição. As novidades de Dilma —Mais Médicos, Minha Casa Melhor…— são meras tentativas de produzir, em ritmo de truque cinematográfico, marcas capazes de atenuar a sensação de paralisia e enfado.
A sorte de Dilma e do PT é que ainda não surgiu na oposição um discurso com força para animar uma reviravolta. Aécio e a dupla Campos-Marina levaram ao noticiário um lote de críticas à atual gestão. No essencial, os documentos são assemelhados. Fazem um diagnóstico acurado. Mas faltou detalhar a receita. O que permite ao PT difundir o medo de que, se forem chamados a acudir o paciente, seus rivais vão mandar reforçar o purgante.
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